quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Histórias de 2017. Contos sobre os melhores discos, shows e histórias de vida.

*O mérito todo ainda é de Star Wars com um polêmico novo filme, um ano em que nos apaixonamos por Gal Gadot e vibramos com aias vestidas de vermelho. Claro que Kendrick Lamar reinou e me envolvi em viagens pela América Latina, fui em um baita show do Arcade Fire e tive esperanças de achar uma jóia rara que não existe afinal.

BBC foi com o U2 para o beco do Batman na Vila Madalena. 2017 QUE ANO.


Viver em 2017 foi descobrir a si mesmo de diversas formas e maneiras. A capacidade que temos de lidar com o mundo torna peculiar a nossa propria identidade. Ao invés de imaginar o ano nesse começo de texto sob os filmes, livros e canções que experimentei vou falar sobre o que eu fiz de grande nesse ano. Grandes coisas morrem junto de nós mesmos, exceto se elas falarem por si só. Um instante em que pude dizer 'gosto muito de você' encoberto na indiferença dos tempos em que vivemos seria um ato de grandeza. A paixão se perde na mensagem e vai parar no vacuo das horas de dias. Me apaixonei sim nesse ano, mas foi mais por coisas do que por pessoas, o que me passa a mensagem de que deixei de amar algo real. Duas coisas moldaram a grandeza desse ano para mim: a viagem monumental para Chile e Argentina e ir morar sozinho que vai ter um upgrade em 2018, mas fica aqui os passos iniciais neste ano.

Quando me perguntam como foi o meu ano, eu sei que foi de mudanças. Nessa toada toda sei que a arte em forma de expressão inquieta e indomável esteve presente em tudo aquilo que experimentei nesse ano. Agradeço a Deus por estar vivo em 2017 e ver um show ousado como o do Arcade Fire em São Paulo com a turnê do disco lançado esse ano, o opulente 'Everything Now'. Estive também no show do U2 com a turnê comemorativa dos 30 anos do album The Joshua Tree em que Daniel Lanois esteve no palco recebendo os aplausos merecidos por ser parte dessa obra em um concerto memorável.

Deus me abençoou com o sentimento de inquietação. Estive em uma profusão de necessidades diversas ao buscar ser um homem capaz de responder ao aflito sentimento de busca por experimentar o medo de viver pobre ou morrer sabendo que fez o que precisava. Nesse tempo o que eu fiz foi acordar e perder o ar de repente quando vi ao redor de mim um outro alguém incapaz de ser eu mesmo. Eu lutei contra isso e contra imagens. O que fiz foi criar o meu próprio modelo de pessoa nesse mundo.

Achar um consolo seria um caminho fácil se trouxesse respostas para dores da vida. A solidão tem resposta sobre isso. Ela diz que não somos mais como antes e joias raras nessa vida se escondem na necessidade pelas realizações de algo grandioso. Grande e memorável como os sonhos que ainda carrego das coisas que ainda não vivi. E que com certeza vou estar atrás em 2018.


... Estou perdendo a minha idade, mas eu estive em 2017 e ouvi muita música

Para variar ouvir música significou horas e horas e horas com os aplicativos do Apple Music, Spotify, TIDAL, BBC Radio Player, Popload Radio (Brazil, zil, zil) abertos e botando para quebrar. Ouvi muito mesmo, e em todos os possiveis e impossiveis lugares. No metrô, no ônibus, nas ruas brasileiras, chilenas, argentinas, paulistanas e seja lá onde estava: carregava a pulsação de uma criatividade incrível de produtores, mixadores, engenheiros de som, artistas, músicos.

Em James Murphy com o seu arrebatador retorno com o LCD Soundsystem testemunhamos a capacidade de render um clássico (mais um) mesmo depois da ressurreição da banda. E que retorno. American dream é uma ode sobre esses tempos. Em Kendrick Lamar e o seu DAMN. o sentimento foi de estupendo torpor com um som político, forte e outro clássico instantâneo desse ano. Assim como em St. Vincent que se veste de pop para proclamar um ato de bravura contra nós mesmos e nossos costumes. Na faixa 'New York', ela faz uma canção íntima e pessoal sobre amizades e perdas. Claro que Ryan Adams mostrou aqui quem faz canções sobre perdas e corações partidos de cair o queixo. No seu 'Prisoner', o artista norteamericano desnuda o medo da solidão com tanta intimidade que nos leva junto consigo. Assim como Father John Misty e o seu 'Pure Comedy' que desconstrói a América de Trump e a nossa sociedade como um todo.

Lamar mostra que é o maior artista dessa década com o seu DAMN.


Um som mais eletrônico, guitarras pesadas e um desejo de libertar-se de si mesmo. Em 'Sleep Well Beast', o The National ainda mantém a mesma sensibilidade nas composições e isso os faz uma banda mais completa com o tempo. Do outro lado do atlântico temos os franceses do Phoenix trazendo um disco novo caloroso como as ruas da Itália no verão. 'Ti Amo' é o sexto álbum da banda liderada pelo saltador de platéias Thomas Mars.

Se o ano de 2017 teve um álbum profundo e envolvente que tente chegar perto do novo do The War On Drugs, o grandioso 'A Deeper Understanding' vai ficar para trás. O vocalista Adam Granduciel, que ao vivo já causa, aqui nesse disco novo explora novos caminhos com melodias mais envolventes e melodias mais interessantes, como na dolorosa e estupenda 'Pain'. Um disco para guardar na parede.

A dupla mais gente boa do indie Kurt Ville e Courtney Barnett juntos fizeram um album genuino em muitos aspectos. 'Lotta Sea Lice' tem a assinatura dos dois, como se eles pudessem ter um filho juntos, unindo o que caracteriza bem o som de ambos, em um resultado bem mais do que satisfatório.

Na categoria sons que falam sobre amor perdido e um certo fim da inocência temos dois segundos álbuns de novos artistas de 2013 que estão de volta. Em 'Something to Tell You' das babies do HAIM e a mega super estrela Lorde com o seu 'Melodrama' trazem o que de melhor sabem explorar. As primeiras trazem aquela pegada Fleetwood Mac com baterias envolventes E a segunda bebendo de Phil Collins e Kate Nash. Dois discos tão dentro de si que fazem um dos mais belos registros da música feita neste ano, com um olhar no passado e caminhando no presente.

Babies HAIM de volta com o seu melhor trabalho em 2017.


Os irmãos Gallagher retornam em um duelo onde ambos saem muito bem em qualidade de seus respectivos álbuns. Liam Gallagher retorna com o seu primeiro album solo carregando boas composições e melodias que remetem ao seu tão amado Oasis. Já Noel Gallagher e o seu High Flying Birds mergulha no que ele próprio chama de um pop cósmico. 'Holy Mountain' e 'If Love is the Law' sem dúvidas já são uma das melhores coisas que o compositor da ex-banda de Manchester criou.

Bandas consagradas também conseguiram retornar a boa forma nesse ano. Neil Young trouxe dois novos trabalhos. Um antigo gravado nos anos 60 que ganhou a vida em 2017 ('Hitchhiker') e outro super recente com a sua banda Promise of the Real, 'The Visitor'. Robert Plant traz um dos seus melhores trabalhos de sua carreira com 'Carry Fire'. Assim como Morrissey que traz o seu 'Low in High School' com incríveis composições. Outro destaque vai para Thurston Moore que apresenta o seu 'Rock'n Roll Consciousness', que inclui uma faixa de somente 16 minutos que já é uma das melhores canções do ano.

O Arcade Fire que já virou banda consagrada retorna com o peso de discos extremamente consagrados com um disco ousado e completamente diferente do som anterior da banda. Em 'Everything Now', a banda traz reggae, sintetizadores absurdos e puro som vindo ali de ABBA e bandas dos anos 70 e 80. Uma deliciosa viagem por sentimentos humanos que se perdem com um mundo muito informado e acomodado com seu consumo que acaba perdendo a si mesmo.

Tudo Agora. Arcade Fire retorna em 2017 com o seu trabalho mais ambicioso. 


E claro teve U2 e o seu 'Songs of Experience' que tomou vida após anos em formação. Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. desnudam temas como mortalidade, motivações na vida, amor e família em um disco muito poderoso e envolvente.

Queens of the Stone Age e Foo Fighters que farão uma tour pela América Latina em 2018 retornam com os melhores discos de suas carreiras em 2017. Os primeiros trazem o seu de inicio polêmico album com o renomado produtor e DJ Mark Ronson chamado 'Villains' que acabou carregando o espírito da banda, desde os seus primordios. E o segundo com o seu 'Concrete and Gold' volta às origens de seu passado mesclando um som mais rock como o que era feito nos anos 90 por eles proprios.

Top 5 - Albuns do ano
1 - Ryan Adams - Prisoner
2 - Arcade Fire - Everything Now
3 - St. Vincent - MASSEDUCTION
4 - Spoon - Hot Thoughts
5 - Phoenix - Ti Amo

Ryan Adams fez o melhor álbum de 2017 muito pela sua capacidade de saber destrinchar sentimentos. Em 'Prisoner' vemos um compositor exímio e consciente de sua genialidade em divagar sobre o que amar significa de uma forma clara e por vezes sem quaisquer filtros. Na faixa 'Haunted House', Adams nos permite observar atentamente cada detalhe do lugar deixado pela amada no espaço real ou metafórico do relacionamento entre eles. Em outra faixa, a grandiosa 'Outbound Train' temos Adams trazendo em sua letras a sua visão moldada sob guitarras bem construídas e que crescem a medida que forma uma certa urgência, ao passo em que a canção encaminha-se ao refrão. Impossível não imaginar o que significa um coração partido ao ouvir esse disco, um dos retratos mais íntimos já realizados por um artista.

O show do ano foi o do Arcade Fire com a turnê Infinite Content. Em São Paulo, a banda de Win Butler faz um dos mais empolgantes shows ao vivo já visto por esse interlocutor. O mundo anda de mal a pior com tanta informação que nos perdemos ao redor de pessoas que não conseguem nutrir discernimento com o que é real ou não. No trabalho da banda vemos sobretudo no recente disco lançado esse ano, o monumental e muito subestimado 'Everything Now' essas fissuras expostas onde as pessoas não conseguem amar, viver, compreender informações. Ao vivo, a banda em um dos raros momentos em que somente o Arcade Fire conseguiria tal proeza vemos pura energia saindo do palco, onde nas letras desse disco inspirado por Talking Heads, Abba e na melodia entoada pelo público ali presente no Anhembi entregou um dos mais honestos retratos da simbiose música e sua importância com a do transmissor da mensagem a banda ali em cima de um palco com telões gigantes e cordas percorrendo o palco como em um ringue de luta. A banda ainda no término desceu o palco e foi batucar com a escola de samba Acadêmicos de Tatuapé. Em pleno Anhembi. Que show.

E feliz 2018 para todos!


domingo, 19 de março de 2017

A fé em Deus testada por dois grandes diretores de cinema

Em 'Silence', o grande Martin Scorsese realiza um projeto ambicioso.

Em sua primeira série de TV, o italiano Paolo Sorrentino mostra a grande beleza da Igreja Catolica

Deus existe? A pergunta que norteia a humanidade desde que foi descoberta as escrituras sagradas e onde desta toda a existência humana baseou-se sob o prisma de que de fato Deus existe. Entretanto há uma comunicação direta como o Todo Poderoso? Como se daria esse contato direto? Em momentos que mais desejamos como clamar por essa visão? Muitos acreditam que a fé é testada sobre nós e que somente dessa forma Deus sabe distinguir os que crêem de verdade e de coração. Mas para as respostas humanas, no calor da vivência da carne pode parecer mais dificil de aceitar tal tarefa. Essa pergunta milenar está presente nas histórias contadas pelos provaveis dois maiores diretores de cinema vivos.

O primeiro é Martin Scorsese. Um dos maiores diretores do século XXI, que já tratou de religião em outros filmes, sobretudo em A Ultima Tentação de Cristo, de 1988, baseado no livro de Nikos Kazantzakis, traz a tona um projeto que levou décadas para finalmente ser realizado. Em 'Silencio', cujo filme foi baseado no livro de mesmo nome escrito por Shusaku Endo, a fé é testada nos limites mais profundos do ser humano em suportar a dor pela verdade, tal qual Cristo sofreu em nome da humanidade, como se mostra no Novo Testamento. O projeto que Scorsese mais tinha paixão se mostra agora concluida, uma obra muito bem filmada, com cenários incriveis. A fotografia de Rodrigo Prieto é um deslumbre, das cenas nas cruzes no mar ao modo como as cenas são levadas do alto nas escadas de igrejas, até aos momentos de tensão nos vilarejos.

Aqui Scorsese chama a atenção a um tema ocorrido no século 17, quando dois jesuitas portugueses (Adam Driver e Andrew Garfield) resolvem ir atrás do paradeiro do mestre (Liam Neeson) que não deu mais noticias após visitar um Japão sombrio sob uma lei que proibi com pena de morte a pratica do cristianismo. Ao se ver no fim do mundo, a fé é colocada a prova para os dois jesuitas. Largar a fé em Cristo passa a ser necessário para suas proprias sobrevivências, assim como para os proprios japoneses que seguem a religião proibida. A escolha pela morte por muitos que se recusam a pisar na imagem sagrada mostram o preço a se pagar pela fé no desconhecido, pelo preço de uma vida eterna.

Já o segundo diretor, Paolo Sorrentino, italiano, vencedor do Oscar por seu maginifico retrado da alta sociedade na delirante vida noturna de Roma, em A Grande Beleza, traz o seu ousado novo projeto. Em 'The Young Pope', Sorrentino filma imagens do Vaticano de tirar o fôlego, assim como injeta uma alta dose de cultura pop sob uma imagem tão pouca dissecada (tirando claro o otimo 'Habemus Papam', do diretor Nanni Moretti). O papa jovem é Jude Law que emprega uma baita interpretação no papel do soberano da Igreja Catolica Romana. Destaques no elenco aqui para Diane Keaton, Silvio Orlando e Scott Shepherd.

O mérito de The Young Pope é nos mostrar que nem mesmo o Papa está imune de uma imagem satirica. O modo como o cômico se mostra presente no secretario geral que é um enorme entusiasta do time do Napoli, até aos vicios maiores dissecados de forma contundente tais como o homossexualismo e a pedofilia. O papa aqui é o Pio XIII, que se mostra um Trump de batinas, fumante compulsivo, que adora Cherry Coke. Seu desprezo por tudo aquilo que deveria servir para unir a todos, se torna indiscutivel, sobretudo a forma como encara temas espinhosos como aborto, divorcio, etc. A crença em Deus é negada em seu intimo o que causa espanto nos clérigos ao seu redor (Como o Papa não crê em Deus?).

Seja no tom mais ameno da já obra prima de Sorrentino, para a obra pessoal de Scorsese, a fé aqui é o tema principal. Como lidar com as incerteza do mundo? O que fica é a certeza que crer é mais importante do que saber a verdade, porque afinal é o que nos resta enquanto seres mortais habitantes em um planeta no Universo vasto que paira sob algum lugar.


Um papa diabolico: Jude Law em um de seus melhores papéis da carreira.


sábado, 18 de março de 2017

Ryan Adams nos torna prisioneiros do amor

* Nenhum outro artista traduz tanta melancolia em canções tão profundas sobre o maior sentimento do ser humano: o amor.


Em casa. Ryan Adams mostra o que tem mais de intimo nele proprio em seu novo album 'Prisoner'

O garoto prodigio.

É raro para quem está descobrindo o artista nascido em Jacksonville, Carolina do Norte, dono de discos que já estão entre os mais vendidos e venerados por milhares de fãs, ter a capacidade de não se ver parado refletindo sobre a propria vida. As letras que carregam dramas e sentimentos profundos desarmam corações pesados e conquista um degrau junto de outros artistas que buscam a mesma sensação através da música, tais como Neil Young e Bruce Springsteen. Para entender o nascido David Ryan Adams, em 5 de Novembro de 1974, hoje com 42 anos de idade, é preciso entender a sua vida cheia de percalços. Na música se vê a propria redenção.

Em sua pré adolescencia, passava os fins de semana sozinho indo a um shopping onde havia uma loja de discos. "Embora fosse muito longe de casa..." admite, ele juntava o dinheiro do almoço durante semana (em torno de $ 1 dolar) para na sexta comprar um disco, se tudo desse certo e não fosse preciso gastar. Lá fez amizade com um funcionário da loja, chamado Jere Mcilwean. "Ele fazia de tudo para ser parecido com Mike Ness do Social Distortion", brinca. Com ele, confessa em uma entrevista a revista Rolling Stone australiana, teve muitas conversas sobre suas bandas prediletas Sonic Youth e Meat Puppets. O seu primeiro contato com uma guitarra foi na mesma época de adolescência em Jacksonville. Adams trocou o seu skate e mais $ 75 dolares por uma guitarra, uma Les Paul falsa, de um amigo do seu irmão Chris, embora confessa nunca ter dado os $ 75 dolares ("Não porque eu sou um bastardo, mas porque era pobre"). A paixão pelo instrumento veio de forma inesperada e gradual. "Eu lembro de ter pensado, deve ter algo de errado com essa coisa, porque não soa como deveria aparentemente soar", confessa. "Ninguém me ensinou nada (como tocar). E eu realmente olhava para isso (a guitarra) como um homem das cavernas olharia uma calculadora". Adams hoje entende melhor do que ningém como soa uma guitarra. E como criar sons etéreos.




Dos anos 80 para o ano de 2017, muito nele se transformou de feridas, decepções e alegrias. Sua relação com os seus pais nunca foi um motivo de orgulho. Adams foi criado por uma mãe solteira e seus avós após o pai abandonar ele aos cinco anos de idade. A relação com sua mãe não era boa, levando o garoto a buscar passar o tempo com os seus avós. Após a morte do seu avô, do qual guarda o modelo de pessoa que deseja ser, por enfisema pulmonar, ele resolve tomar novos passos para sua vida. Um dos vicios do avô, o cigarro, por anos foi o que manteve ele proximo das lembranças dele. "O cheiro me fazia lembrar dele, as fumaças me faziam lembrar dele. Esse era o meu jeito de estar proximo dele."

Adams passa a morar sozinho e se muda para Raleigh, Carolina do Norte e se vê diante dos momentos mais assustadores de sua vida. "Eu não tinha mais parentes. Muitos não gostavam de mim". Em meio a 'bicos' como lavador de pratos e trabalhador de construção civil, ele passa anos depois, em 1994, a tocar em uma banda de alt-country chamada Whiskytown, que em meio ao boom da cena Americana de musica country, assinam em 1997, um contrato com uma grande gravadora. Entretanto, ele se arrepende dessa época: "Eu comecei essa maldita banda country, porque punk rock era bem dificil de tocar.", confessa em uma entrevista para a revista inglesa Q. "Eu estava sob aquela influência musical quando eu tocava aquilo. Era tipo, 'Eu preciso fazer isso, porque eu tenho esse trabalho terrivel cantando nessa porcaria de banda horrivel' - quando isso vai acabar?". Até que um dia Adams demitiu metade da banda em uma apresentação em Kansas City. Era o fim de um ciclo.







Ele por ele mesmo.

Ao se mudar para Nova York, Adams passa a viver com sua namorada a uns blocos de Greenwich Village. Foi onde, após terminar com sua então garota, ele começa a escrever e compor o que viria a ser o primeiro disco de sua carreira. Tendo permanecido no mesmo apartamento, envolto com as lembranças dela ele compôs 'Heartbreaker' sobre ela.


Na época de 'Heartbreaker': 17 anos depois


Ryan Adams passa a ser o artista prodigio. É considerado o novo Bruce Springsteen. Vira o xodó de Elton John. Revistas como Rolling Stone passa a considera-lo um dos grandes artistas de sua época. Foi com o album 'Gold' que ele passa a se tornar um dos maiores artistas de fato. Com a etérea 'New York, New York', os holofotes passam a se movimentar em seu rosto. Uma das canções que mais embalaram o tributo as vitimas do 11/09. Com o sucesso de 'Gold', ele embarca no sucesso de The Strokes e The White Stripes, com um rock progressivo e grandes canções, namora as maiores beldades da época como Winona Ryder, Beth Orton e Parker Posey. Produzido por Ethan Johns, filho do legendário produtor dos The Rolling Stones e The Who Glyn Johns, o disco se torna uma mudança de 180° na sua carreira.

Outros grandes discos passam a vir mantendo a mesma qualidade unica de suas composições e letras. 'Demolition', de 2002, 'Rock'n Roll', de 2003 e 'Love is Hell', de 2004 foram lançados em sequencia tornando ele um dos artistas mais criativos e geniais de sua geração. O problema surge quando ele mantem o ritmo anual de lançamento de discos, mas soa saturado pelo processo criativo que sucumbe a discos não ruins, mas não tão bons e que vem a coincidir com o periodo em que esteve sob a influencia de bebidas e drogas . Após se unir a banda The Cardinals, Adams passa por um momento de transição para aquilo que se tornou, longe dos vicios. Com os albuns 'Easy Tiger', em 2007, 'Cardinology' de 2008 e 'III/IV' de 2010, ele passa a canalisar sua emoções através das canções. "Foi na realidade tão saudável partir nessa, é um lugar seguro para examinar você mesmo, e eu realmente o fiz. Eu usei esse tempo, minhas amizades ali, e eu comecei a ter bons momentos, que era inacreditável.", confessa para a Rolling Stone australiana. "Eu ia para o estudio todos os dias e aquilo me curou."


Com a ex-esposa Mandy Moore.

Em 2011, sob o efeito do amor por sua esposa, a atriz Mandy Moore, ele traz 'Ashes and Fire', um dos seus maiores discos. Com canções alegres e belas, como 'Chains of Love' e 'Lucky Now', foi a fase do redescobrimento de si mesmo mais uma vez. Após trabalhar num album mais parecido com esse último, Adams vê dentro de si um desejo de contar um pouco mais sobre sua vida pessoal e sobre a si mesmo. Vem então o bombástico e fantástico disco com o seu nome no titulo. 'Ryan Adams', 2014. "Aquele disco foi eu mesmo começando a me sentir eu mesmo. Era eu mesmo indo, eu posso tocar uma guitarra acustica e é sobre isso do que se trata. Mas eu sei tocar uma canção como 'Gimme Something Good' e essa é a minha chance de mostrar como eu sei tocar uma guitarra elétrica. Eu ainda posso ter aquele momento do Grateful Dead, e momentos de Daydream Nation do Sonic Youth e aqueles todos envoltos em Don Henleyisims"




O sentimento mais humano.

Houve diversos EPs lançados nos ultimos anos e um LP de canções punk rock num experimento muito bem sucedido, o album '1984' e além de um cover de todo o album de synth-pop da cantora Taylor Swift, '1989'. A versão de Adams foi além e trouxe o seu talento a uma visibilidade do qual ele não tinha até então, tornando-se um sucesso. O resultado traz ecos de um 'Nebraska' de Bruce Springsteen. Soturno e tocante. Em meio a sua separação traumatizante com Mandy Moore, ele confessou certa vez que o album de Swift falava mais sobre o que sentia do que qualquer outra coisa que havia feito em toda sua carreira. A resposta ao seu momento de separação o fez ficar recluso ainda mais e gravar por dias e noite produzindo um enorme material. Todo o material é feito por meio de sua propria gravadora, a Pax-Am, que fundou para se livrar de problemas que teve no passado com gravadoras.

Doze canções desse enorme material estão no seu novo disco lançado mês passado. 'Prisoner'. O que vemos aqui é o melhor trabalho desde 'Gold', com canções que são extremamente bem trabalhadas, com letras dilacerantes. As guitarras elétricas estão presentes como nunca, com sequências em riffs inacreditaveis como na 80's canção 'Anything I Say To You Now'. A faixa titulo é outra demonstração de como as baterias tornam de certa forma um disco de rock que trata de amor com a furia do rock oitentista. O primeiro single 'Do You Still Love?' é puro Bruce Springsteen, assim como 'Haunted House', que soa a fase 'Tunnel of Love'. 'To Be Without You', como nota bem a revista Q inglesa, traz bem realmente ecos do disco Sea Change, do Beck. 'Outbaund Train' é uma canção que te conforta em como uma separação deve causar em um coração partido, com um ritmo envolvente. Em 'Breakdown' estamos novamente com as guitarras elétricas dilacerantes.


Na Rolling Stone: Sua maior paixão são gatos.


Ryan Adams retorna com o coração costurado prometendo distância na faixa que fecha o disco 'We Dissapear'. Animado com a turnê do disco, e a vontade em fazer shows para grandes arenas, já estão marcados diversos shows pela Europa, Australia e EUA... quem sabe até América Latina ano que vem ou final do ano? :-) O mais importante é essa nova fase em que ele se apresenta. Renovado e com todo uma nova energia, cercado de seus gatos e de sua nova namorada.


Na capa da Rolling Stone australiana.


Em uma entrevista para a radio KCRW, Adams decifra o que significa amar nos dias de hoje. Ele conta que não devemos nos privar do amor, e que sim se lançar sempre para amar as pessoas. Que somos assim, é de nossa natureza humana amar e estar preso a isso. "Aquilo que eu vivi foi o máximo do meu esforço em estar vivo. Ser romântico é estar consciente da propria existência de nós como seres humanos." E completa. "(As guitarras elétricas no disco fazendo muitas canções soarem alegras apesar de melancolicas) foram o meio de celebrar essa consciência humana em estar vivo e poder amar". Por mais que doa eventualmente a separação. Ainda para a Q inglesa ele declara "Eu tenho 42 anos, você não pode me parar nem ferrando. Eu não tenho que pedir para ninguém permissão para ir para lugar nenhum." ele comenta por possui sua propria gravadora, a Pax-Am. "Eu não sou essa celebridade que aparece na TV toda hora. Eu não tenho paciência para isso." O cantor que não sabia mexer direiro em uma guitarra foi além e hoje usa ela para reparar sentimentos perdidos e achados.

No clipe de 'Do You Still Love Me?': clipe sobre a turnê do músico.

 Para os que não querem ter somente o novo disco nos serviços de streaming (esquece o box com as miniaturas do cantor e discos de vinil com diversas capas para cada canção - está esgotado, uma pena)...







Sim, um box com miniaturas do Ryan Adams e banda (e gatos, claro).


Abaixo a entrevista incrível de Ryan Adams com o bamba Zane Lowe no Beats1 da Apple Music, e o album 'Prisoner' na plataforma TIDAL.





domingo, 5 de fevereiro de 2017

Histórias de 2016. Contos sobre os melhores discos, filmes, séries e histórias de vida.

*Nada vai tirar o mérito de que tivemos um ano com novo disco do Wilco, show(s) do Wilco em São Paulo, Louis CK fazendo a melhor série dos ultimos tempos e um Star Wars tão majestoso.


Alec Baldwin imitando Trump. Os EUA foram a loucura. 


Vou começar a lista que todos os anos faço juntando tudo o que me impressionou e quero ser breve. Não houve um 2016 ruim. Não concordo com esse julgamento feito em todo canto. Separar frustrações e decepções numa caixa de 365 dias nos faz crer que haverá uma outra caixa que vai ser aberta e por ai vai até o virarmos pó de estrelas novamente. É uma forma de ver o mundo em caixas e não numa longa pista de corrida, que no meio do caminho tropeçamos, caimos, liberamos nossas endorfinas e conquistamos muitos podios e ficamos atras as vezes. O que aconteceu ano passado nos faz estar mais preparados para viver e não a aceitar que vivemos para sempre. Pessoas morrem, queridas como David Bowie, Leonard Cohen, Carrie Fisher, Prince, por ai vai. Pessoas elegem e apoiam figuras que nos dão nenhuma inspiração, pelo contrário, lideres que vieram para causar discordia. Pessoas ficam tristes. Eu fiquei muito. No final, isso tudo nos faz despertar do medo e da frustração e necessário para aprendermos a cultivar as nossas esperanças e confiança. Duas frases de dois pensadores do país que mais nos decepcionou em 2016 nos servem de espelho para terminar essa introdução minha do que foi os 365 dias que se passaram. A primeira de um pastor e uma das vozes mais influentes do protestantismo nos Estados Unidos, Henry Ward Beecher. "Our best successes often come after our greatest disappointments." ("Nossos melhores sucessos vêm depois de nossas maiores decepções") e a de Martin Luther King, que disse "We must accept finite disappointment, but never lose infinite hope." ("Nós devemos aceitar a decepção finita, mas nunca perder a nossa esperança infinita").

O que eu lembro dos filmes que eu vi...

The Lobster. De longe uma das obras mais inteligentes e interessantes do ano que se passou.


Apesar de estar de saco cheio de filmes de super-herois, Deadpool e Guerra Civil: Capitão América foi boas surpresas. O primeiro é um dos melhores filmes já feito nessa safra (original, corajoso e nenhum pouco censurado). Os filmes que venceram o Oscar, O Regresso sem duvida virou já um clássico, pela forma como foi filmado e pelos efeitos e a camera do diretor Alejandro Gonzalez Inarritu. Zootopia me chamou muita atenção também, filme de animação com tema de adulto que vai de se aproveitar dos outros a mostrar como não é facil a vida. O novo do Nicolas Winding Refn, "The Neon Demon" é uma das coisas mais vicerais e profundas do ano, que só perde para "Elle", do Paul Verhoeven. Desconstroi todas as nossas boas intenções e formas de lidar com o certo e o errado. Colin Farrell faz a mais brilhante interpretação de sua carreira no genial "The Lobster", do diretor grego Yorgos Lanthimos.

Rogue One, de Gareth Edwards é um filme muito bem feito e que nos enche das melhores sensações que um filme de Star Wars pode proporcionar: emoção, nostalgia e personagens muito bem feitos.


"There's a 97.6 percent chance of failure". K2SO melhor personagem.


O que mais me chamou a atenção sem duvida foi Manchester a Beira Mar. Drama poderoso, bem escrito e capaz de nos tirar do chão quando Casey Affleck e Michelle Williams discutem, depois quando se encontram anos depois. Poderoso e profundo. A Chegada faz algo assim também, mas aos poucos. Dennis Villenueve faz uma obra sobre nos mesmos e nossos conflitos internos, quando uma invasão alienigina parece ser capaz de despertar nossas reações mais profundas. Sing Street, um filme modesto feito pelo grande diretor irlandês John Carney, sobre garotos que formam uma banda parece ser um baita filme, quando termina um filme avassalador. O singelo torna gigantesco. Sem contar "La La Land" que estreou no começo já desse ano, mas é um filme que saiu ano passado e chegou aqui esse ano antes de eu escrever aqui. Ryan Gosling e Emma Stone vão ganhar todos os prêmios (e devem) pela forma unica de despertar o gênero de musicais para uma outra dimensão. Damien Chazelle, o mesmo garoto que dirigiu e escreveu "Whiplash" engata um filme que eleva o seu nome como a mais bela mente criativa de Hollywood.
 
Menções especiais ainda para: Sully, do Clint Eastwood, A 13ª emenda, documentário da Ava DuVernay, Dois Caras Legais, de Shane Black e Slow West, de John McLean que só vi ano passado.



O que eu lembro dos discos que eu ouvi...

Bowie nos deixa com uma obra prima. Blackstar é um adeus ao mundo em forma de música.


Começo pelo disco que abalou o ano. 'Blackstar' seria apenas o novo disco do grande David Bowie, se não acabasse sendo o seu derradeiro e postumo album. Com canções como 'Lazarus', que é uma confissão de sua morte, Bowie nos avisa "Look up here man I am in heaven. I got scars it can be seen." O seu ultimo disco é uma obra prima acidental. Traz a beleza da vida e da morte, em versos que caminham para nos levar para a finitude de toda uma vida e o que nos espera. Com oito musicas, o disco já entra para um dos melhores dos seus discos.

Sem duvida houve outros discos tão impressionantes quanto o de Bowie. Beyoncé realizou um dos seus mais ousados discos. LEMONADE tem o vigor de um discurso de protesto a favor de feminismo e preconceitos raciais. Faixas como DONT LOSE YOURSELF, parceria com Jack White soa como um Led Zeppelin junto de sua voz marcante. FREEDOM talvez a mais poderosa canção. Radiohead voltou com um disco profundo, com letras que norteiam a nossa busca por respostas. 'True Love Waits' assim como outras canções já haviam aparecido em shows, mas aqui no disco 'A Moon Shaped Pool' se torna um hino. Destaque para 'Daydreaming'. O rebelde Kanye West pode ser um completo perdido na vida real, mas nos seus discos ele dá o seu melhor. 'The Life Of Pablo' é uma obra prima cheia de nuances e com canções unicas. 'Ultralight Beam' é um hino gospel que abre o disco majestosamente. 'Famous' e 'Waves' são ótimas canções.

Angel Olsen fez um baita disco. Quem é ela? "My Women" é um instantaneo disco que catapultou a carreira dela. Dizem que os seus shows são ainda melhores. Um dos melhores discos de rock do ano. Em se tratando de rock, o melhor sem duvida é dos Car Seat Headrest, o brilhante "Teens of Denial". O disco é repleto de sons que vão até nove minutos, mas não fica chato. As guitarras e baixos constroem sutilezas, sons etéreos e a capacidade de transcender o sentidos. Wilco retornou com o excelente "Schmilco", trazendo menos a profundidade do ser humano, para tratar de sentimentos que nos remetem a mémorias de infancia, primeiros amores, decepções, vitorias.

Os ingleses do The 1975, e o seu "I Like It When You Sleep, for You Are So Beautiful Yet So Unaware of It" alardeado como melhor disco de 2016 pela NME é um dos belos discos do ano, com canções muito boas. A banda Fat White Family trouxe o arrebatador "Songs For Our Mothers" com a já inesquecivel "Whistest Boy on the Beach". Os The Last Shadow Puppets fizeram um disco incrivel, o 'Everything You Come to Expect' e o EP fantastico com direito a cover de Leonard Cohen, 'The Dream Synopsis". Ao falar de Leonard Cohen, esse foi outro grande nome da música a nos deixar com um recente disco. "You Want It Darker" fecha uma discografia inigualavel de canções que já ficaram para sempre guardadas em nossas mentes.

Parquet Courts vai fundo no novo disco num tom mais pop que os experimentais ultimos discos. "Humam Performance" dialoga com a vida ordinaria do dia a dia, aos molde de Talking Heads, cria hinos capazes de nos levar a compreender as nossas vidas através do espelho. Um dos maiores retornos desse ano foi dos rappers do A Trible Called Quest. Com o discaço "We Got From Here... Thank You 4 Your Service" eles foram além do comum mais uma vez e entregam canções poderosas para esses tempos sombrios que surgem.

Fonte: Scream Yell - Show do ano: Wilco no Auditorio Ibirapuera.


Menções especiais para: Iggy Pop e o seu "Post Pop Depression", Blood Orange trazendo o lindo "Freetown Sound", PJ Harvey e o seu disco de protesto "The Hope Six Demolition Project", Kings Of Leon e o pop interessante "WALLS", o retorno de Richard Ashcroft com o belo "These People", Pixies trazendo o som poderoso em "Head Carrier", Band Of Horses e o bem divertido "Why Are You OK" e o brilhante novo album do Jimmy Eat World, "Integrity Blues".


O que eu lembro das séries de TV que eu vi...


As crianças e seu RPG. O mundo que saiu do jogo e virou realidade. 'Stranger Things' marca a cultura pop do ano.


A "eleven" ou simplesmente "él" deixou as nossas cabeças cheias de questões mal resolvidas. A série 'Strange Things' foi um dos maiores acontecimentos na cultura pop no ano que se passou. Graças aos irmãos Matt e Rosss Duffer e do produtor e diretor Shawn Levy, uma história saida dos anos 80 com direito a referencias da época (da trilha sonora as citações de filmes), três garotos mais a misteriosa "eleven" saem em busca de pistas que levem ao paradeiro do amigo deles que desapareceu por razões misteriosas.

O ano que se passou mostra sem duvida que estamos na era de ouro da TV, com produções criativas e com um peso maior que o cinema, como palco para as grandes obras audiovisual. O maior exemplo disso são séries como Atlanta, criada pelo músico, ator, futuro Lando Calrissian Donald Glover, que mostra um rapper, um amigo e seu primo em dialogos existenciais em busca de sucesso em meio a dura realidade que vivem. A profundidade só é vista de longe, nas cenas, dialogos. BoJack Horseman, desenho do Netflix e This Is Us seguem pelo mesmo caminho.

Os gigantes da transmissão por streaming dominaram mais uma vez o ano. Netflix, Amazon Prime e Hulu (ainda não presente no Brasil), mostram que as gigante tem de competir o máximo que podem. A HBO, Fox, Showtime, Starz, entre outras mostram estarem trabalhando bem o suficiente para competirem.

O mega estrondo Game Of Thrones foi a grande série da HBO, que agora deixa mais duas temporadas antes do final da série para sempre. O final da ultima temporada mostra que as coisas estão chegando a um final incerto. Os ecos de poder em mãos erradas ao final lembra bem o que os proprios norte-americanos estão vivendo. A rainha dos dragões agora segue para a maior batalha de todas pelo trono. Aonde isso vai nos levar?

Em paralelo, a HBO já deixou as cartas expostas para a sucessão de GoT com o western futuristico Westworld. A série de Jonathan Nolan, JJ Abrams e Lisa Joy tem um roteiro absurdo, atuações acima da média. A trama nos coloca dentro de uma métafora sobre a nossa vida humana em paralelo a de um mero robô. A trilha sonora com Radiohead, The Rolling Stones no piano é um dos pontos alto. O compositor da trilha é o mesmo de GoT, Ramin Djawadi. Outros destaques execelentes da HBO foi Veep, com uma surpresa no final da temporada. Julia Louis-Dreyfuss continua acima da média; The Night Of, trazendo debates raciais em meio a um crime sem solução. A genial Silicon Valley, na sua melhor temporada até aqui. Girls na penultima temporada. A sensacional série 'Vinyl' com Martin Scorsese, Mick Jagger e Terrence Winter não sobreviveu a uma segunda temporada, mas deixou uma incrivel experiencia visual, auditiva vibrante. O ator Bobby Cannavale está absurdo como o dono de uma gravadora em meio a efervecente Nova York dos anos 70.

Claire Foy estonteante.


A Netflix teve o seu ponto alto, além da série da "eleven", com a história da rainha Elizabeth no começo de seu reino como rainha. 'The Crown' escrita por Peter Morgan expõe os dramas vividos pela ainda jovem rainha (vivida pela atriz absurda de boa Claire Foy) em busca de dialogos com o parlamento, seus problemas em familia, primeiro com sua irmã e posteriormente com seu marido. Um requinte em fotografia, trilha-sonora, edição, figurino, cenários estonteantes. É impossivel estar indiferente a essa série.

Outra atração da plataforma de streaming foi a nova temporada de Black Mirror com um primeiro episodio já classico, sobre os vicios na exposição causada pelas redes sociais. Destaque ainda para Love, escrita por Judd Apatow, Master Of None, escrita e estrelada pelo ator Aziz Ansari. The OA, produzida pela produtora de Brad Pitt.

Louie é uma série incrivel do gênio do stand up Louie CK, mas se podemos dizer que ele esteve em um projeto que beira a uma obra prima é a série 'Baskets' da FX. Com Zach Galifianakis no papel principal se dividindo em dois papéis hilários, ainda não chega perto do quão é hilário sua mãe na série. O ator Louis Anderson faz Christine Baskets, uma dona de casa gorda a ponto de entrar em coma por causa de uma diabetes contraida pela dieta comum a todo norte-americana (baseada em fast-food e comidas cheias de calorias). Outro destaque é a Martha (interpretada por Martha Kelly). Chip Baskets (Zach) é um palhaço que estuda como ser palhaço na França. Lá ele se apaixona por uma francesa ambiciosa. O seu destino acaba sendo a de um drama sem fim, mas no fundo de tanta coisa ruim, os roteiristas aqui extraem o melhor da comédia no ano.


Louis CK atrás das camaras e Zack Galifianakis. Geniais em 'Baskets'

Menções especiais para: Mozart in the Jungle, da Amazon Prime, com Gabriel Garcia Bernal; Halt and Catch Fire da AMC, com uma terceira temporada boa; Red Oaks, da Amazon Prime, produzida por Steven Soderberg, a assustadora 11.22.63, com James Franco e produzida por JJ Abrams junto com Stephen King, baseado em sua obra; Animals, desenho da HBO sobre pombos, gatos, cães; Catastrophe, brilhante série inglesa com os atores Rob Delaney e Sharon Horgan como um casal e um bebê em dialogos cheios de referencias e situações hilárias; Fleabag, outra série inglesa com a revelação Phoebe Waller-Bridge no papel de uma mulher na casa dos trinta superando tragédias pessoais; High Maintenance, da HBO baseada numa série de curtas exibidas pela internet sobre um sujeito vendendo maconha; Outcast, da Fox, criado por Robert Kirkman, o mesmo de The Walking Dead. Creppy as hell; a segunda temporada de Mr. Robot, com uma trama não tão interessante quanto a primeira, mas vele a pena dar continuar vendo; The Night Manager, série incrivel com Tom Hiddleston e Hugh Laurie, da BBC com a AMC; The Get Down, uma grande surpresa vinda do diretor Baz Luhrman, australiano diretor de Moulin Rouge, O Grande Gatsby, que cria uma história brilhante sobre o hip hop em meio a um carrossel de musicas, danças e improvisos de hip hop; Ash Vs Evid Dead, Blunt Talk, Insecure, You're the Worst, Man Seeking Woman fecham a lista.

E claro ainda tivemos o futebol brasileiro...

Fonte R7 - É campeão, rs