quarta-feira, 30 de março de 2016

A música ficou chata, ela vai mudar e nunca mais será a mesma

* Essa vai para os corações cheios de vontades de não ouvir mais os mesmos top 20 nunca mais na vida


Um Kevin Parker ouvindo sons e fazendo sons. Photos by Photographed by Matt Sav


O som mudou mas ainda continua o mesmo. Dançamos, choramos e corremos atrás de sons que definam nossos momentos nessa vida na Terra. Vida sem sentido, cheio de vazios. Ouvir canções se tornaram uma forma de reagir as dores dessa vida. A expressão de fúria, calma e vertigem. O som que era blues, virou rock, que ficou chato e virou um rock ainda mais rápido e curto, o punk, que trouxe o grunge, que antecedeu o rock progressivo e new wave. A certeza é que não somos mais compostos por gêneros - sejam musicais, políticos ou sexuais - digo no presente, o presente de fato. O ano de 2016 pode ser definidor para os rumos da música, como expressão artística e para a relações e reações entre indivíduos.

E nesse vai e vem dos dias de hoje, fazer música virou uma expressão de construir a mistura exata do que se ouvir. O hip hop teve um papel tão importante quanto o jazz e o blus nessa mistura. Assim como sons eletrônicos, provenientes dos anos 80 em diante. O jornal inglês The Guardian postou nesse mês uma reportagem sobre esse tema escrita por Peter Robinson, editor do site Popjustice e que contribui para a NME. A música feita hoje, numa rápida observação panorâmica pode ser muitos sons em uma só música. David Bowie, sempre a frente do seu tempo, pareceu em seus últimos discos em vida, querer mostrar como a música é no futuro: sem rótulos.

Músicos novos e os mais contemporâneos buscam não mais um som, como o rock'n roll e o hip hop. Buscam a expressão de sons que ouvem e se identificam. A neo-zelandesa Lorde, aposta de Bowie como uma imagem do futuro da música, mescla o rap com o rock, transitando pelo pop e fazendo sons que invadem pistas eletrônicas. Seu som pode ser rotulado de Alternativo, o que nada mais é do que um rotulo que simplifica a essência desse som modificado presente hoje. O Indie, que na realidade, não é independente, já que Florence + the Machine deixou de ser indie depois de seu segundo disco. O que marca a música, como expressão artística, é a sua multiculturalidade. O Arcade Fire, ao expressar na música de seu último disco, "Normal Person", antes de iniciar a canção, o desabafo: "Oh man, Do you like rock and roll music? 'Cause I don't know if I do", indica bem o que a música é hoje em dia, quando uma das maiores bandas de 'rock' expõe isso, em um disco repleto de influencias caribenhas.


Finestra e sua busca pelo som de rock perfeito. Vinyl/HBO.


A Rihanna hoje faz cover do Tame Impala e o Ryan Adams faz um disco todo de cover da Taylor Swift. Justin Bieber tem hits que não são pop convencional, e sim belas gravações moldadas por Diplo, o produtor influenciado por tudo quanto é gênero. A NME é uma revista gratuita que coloca o Bieber na capa, porque não diz mais o que se dizia décadas atrás. As batidas, o furor e a energia criativa das músicas feitas no passado representam exatamente aquilo que não existe mais. Gêneros musicais são importantes hoje como ingredientes, e não mais como o prato principal. Quem busca referencias no Every Noise at Once, que acha playlists no Spotify ou Tidal, não mais se orienta por tipos. O que buscava Richie Finestra, na série produzida por Martin Scorsese e Mick Jagger, na HBO, em sua gravadora, é o som de um tempo que se misturou a todos os tempos até aqui. O rock se sedimentou, como já confessou Sergio Pizzorno, guitarrista do Kasabian. "O rock está morrendo." Outro que seguiu nesse desabafo foi o guitarrista da lendária banda de rock Kiss, Gene Simmons, em uma entrevista para 'Esquire':

"There was an entire industry to help the next Beatles, Stones, Prince, Hendrix, to prop them up and support them every step of the way. There are still record companies, and it does apply to pop, rap, and country to an extent. But for performers who are also songwriters — the creators — for rock music, for soul, for the blues — it's finally dead. Rock is finally dead."

A música está chata. Estivemos um tanto de tempo parados olhando para o pop do final dos anos 90 até o inicio dos anos 2000, o rock, o hipo hop, a mídia musical segmentando gêneros. Esse tempo acabou, mais ainda respiramos a incompreensão do barulho que ainda causa a falta de criatividade. Não ouvimos mais canções com o peso do passado, entretanto esse é o futuro. Não houve mais bandas que expressassem a atitude de um tempo. O Kanye West tem atitude, mas é burra - não desmerecendo sua genialidade. Tudo está distribuído entre nós. A solução, se essa é a solução, talvez seja não separar artistas e abraçar uma época que redefine o som, como abrangente forma de fazer sons. Será uma bela opção a ser dada.

Os Stones fazendo sons de uma geração. Fotos da Olympic Studios.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Como salvar os super-heróis?

*Uma reflexão sobre o momento cinematográfico em que vivemos.



Image via Empire


O cinema, como arte barata feita para o proletário se entreter - o que nisso não há nada de ruim e sim de bom já que arte muito conceitual e seletiva é chata e esquecível - vem trazendo nos filmes de super heróis um nicho de centenas de produções para encher salas multiplex de shoppings. Se o passado do começo do século passado era dominado por faroestes/filmes bíblicos, comédias pastelão e romances épicos, o começo desse século só tem quadrinhos.

O problema disso é que os heróis não cabem mais na fantasia e são demasiadamente realísticos. Essa afirmação tem seu lado verdade, mas não sobrevive a ideia de que não vivemos no mundo de fantasia dos EUA na Guerra Fria, onde o outro lado socialista ditava o mal. A mitologia dos heróis que vemos nas telas ainda baseados naquele cenário, promove em sua versão atual no cinema essa aproximação com a realidade que até é positivo.

O novo filme 'Batman Vs Superman - A Origem da Justiça' trata-se de uma reflexão acerca sobre heróis no cinema hoje em dia, ou pelo menos soou para a minha pessoa. O confronto entre dois seres anormais em uma realidade onde a humanidade dá espaço para grandes corporações com poderes ilimitados, como a LexCorp, não é verossímil. O bom do filme é justamente pensar nos super-heróis como responsáveis por defender a humanidade do mal, seja esse qual for, nos dando o conforto de que em meio a Estado Islâmico e terroristas, há seres com poderes capazes de derrotar essas ameaças. A própria humanidade, como fica explicito no filme, se torna a maior ameaça. E nesse responsável, a figura de todos os que sentiam repulsão pelo ser alienígena Super Humano.

Passado o frenesi, 'BvS' é um filme inacabado, justamente por não propor um enredo que funcione para lermos o filme em um formato. O filme todo não ganha um formato. O que Zack Snyder faz é entuchar em um só filme o que a Marvel levou anos de filmes para fazer: apresentar os super-herois de forma compreensível. Buracos no roteiro, soluções risíveis para dilemas entre os personagens, um começo de filme que poderia ser facilmente cortado do filme. No final, desejamos ter visto mais de uma só história que fizesse sentido, uma em que de preferencia colocasse um protagonismo em um embate prometido e que não se concretiza. Qual o sentido desse filme?

O que importa é achar que esses super humanos podem existir. No caminho, pode haver exageros, desde que não nos soe forçado demais, caricaturístico demais. Os filmes do Batman, dirigido pelo mestre dos exageros Tim Burton foi um retrato dos exageros dos anos 90. Ainda soava plausível crer no surreal no que se tratava de homens morcegos. Hoje, só pode soar antiquado e sem graça. As versões do diretor Christopher Nolan ensinou para a critica e publico que lugar de super heróis é no mundo real sombrio e cruel.




Na visão da Marvel ainda podemos sonhar, já que seus personagens são atemporais (ou pelo menos, muitos deles), tais como Homem Aranha e Hulk. O que não deixa de fora a profundidade de temas atuais como vistos nos recentes Vingadores e Capitão América. Ainda assim, as histórias parecem soar tudo o mesmo saco de tramas. Os filmes do Thor são um saco. Assim como os novos Homem Aranha. Já não há mais espaço para historias tradicionais de super heróis. É preciso radicalizar e mostrar algo interessante. Projetos como Deadpool são um frescor ao marasmo de sacos cheios de uma platéia sem paciência para esse gênero monótono.

A salvação para os super-heróis é não ser super-heróis. Ser, no lugar de messias da humanidade, figuras apaixonantes por construir o fantástico em cima de fracassados. Como nós.

As séries da Marvel no Netflix parece seguir o caminho certo. Essa é uma época em que o protagonista de filmes assim mora em lugares atípicos, tais como o herói da série Mr. Robot. Pode ser qualquer um, não precisa ser rico ou ter super poderes.