quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Histórias de 2017. Contos sobre os melhores discos, shows e histórias de vida.

*O mérito todo ainda é de Star Wars com um polêmico novo filme, um ano em que nos apaixonamos por Gal Gadot e vibramos com aias vestidas de vermelho. Claro que Kendrick Lamar reinou e me envolvi em viagens pela América Latina, fui em um baita show do Arcade Fire e tive esperanças de achar uma jóia rara que não existe afinal.

BBC foi com o U2 para o beco do Batman na Vila Madalena. 2017 QUE ANO.


Viver em 2017 foi descobrir a si mesmo de diversas formas e maneiras. A capacidade que temos de lidar com o mundo torna peculiar a nossa propria identidade. Ao invés de imaginar o ano nesse começo de texto sob os filmes, livros e canções que experimentei vou falar sobre o que eu fiz de grande nesse ano. Grandes coisas morrem junto de nós mesmos, exceto se elas falarem por si só. Um instante em que pude dizer 'gosto muito de você' encoberto na indiferença dos tempos em que vivemos seria um ato de grandeza. A paixão se perde na mensagem e vai parar no vacuo das horas de dias. Me apaixonei sim nesse ano, mas foi mais por coisas do que por pessoas, o que me passa a mensagem de que deixei de amar algo real. Duas coisas moldaram a grandeza desse ano para mim: a viagem monumental para Chile e Argentina e ir morar sozinho que vai ter um upgrade em 2018, mas fica aqui os passos iniciais neste ano.

Quando me perguntam como foi o meu ano, eu sei que foi de mudanças. Nessa toada toda sei que a arte em forma de expressão inquieta e indomável esteve presente em tudo aquilo que experimentei nesse ano. Agradeço a Deus por estar vivo em 2017 e ver um show ousado como o do Arcade Fire em São Paulo com a turnê do disco lançado esse ano, o opulente 'Everything Now'. Estive também no show do U2 com a turnê comemorativa dos 30 anos do album The Joshua Tree em que Daniel Lanois esteve no palco recebendo os aplausos merecidos por ser parte dessa obra em um concerto memorável.

Deus me abençoou com o sentimento de inquietação. Estive em uma profusão de necessidades diversas ao buscar ser um homem capaz de responder ao aflito sentimento de busca por experimentar o medo de viver pobre ou morrer sabendo que fez o que precisava. Nesse tempo o que eu fiz foi acordar e perder o ar de repente quando vi ao redor de mim um outro alguém incapaz de ser eu mesmo. Eu lutei contra isso e contra imagens. O que fiz foi criar o meu próprio modelo de pessoa nesse mundo.

Achar um consolo seria um caminho fácil se trouxesse respostas para dores da vida. A solidão tem resposta sobre isso. Ela diz que não somos mais como antes e joias raras nessa vida se escondem na necessidade pelas realizações de algo grandioso. Grande e memorável como os sonhos que ainda carrego das coisas que ainda não vivi. E que com certeza vou estar atrás em 2018.


... Estou perdendo a minha idade, mas eu estive em 2017 e ouvi muita música

Para variar ouvir música significou horas e horas e horas com os aplicativos do Apple Music, Spotify, TIDAL, BBC Radio Player, Popload Radio (Brazil, zil, zil) abertos e botando para quebrar. Ouvi muito mesmo, e em todos os possiveis e impossiveis lugares. No metrô, no ônibus, nas ruas brasileiras, chilenas, argentinas, paulistanas e seja lá onde estava: carregava a pulsação de uma criatividade incrível de produtores, mixadores, engenheiros de som, artistas, músicos.

Em James Murphy com o seu arrebatador retorno com o LCD Soundsystem testemunhamos a capacidade de render um clássico (mais um) mesmo depois da ressurreição da banda. E que retorno. American dream é uma ode sobre esses tempos. Em Kendrick Lamar e o seu DAMN. o sentimento foi de estupendo torpor com um som político, forte e outro clássico instantâneo desse ano. Assim como em St. Vincent que se veste de pop para proclamar um ato de bravura contra nós mesmos e nossos costumes. Na faixa 'New York', ela faz uma canção íntima e pessoal sobre amizades e perdas. Claro que Ryan Adams mostrou aqui quem faz canções sobre perdas e corações partidos de cair o queixo. No seu 'Prisoner', o artista norteamericano desnuda o medo da solidão com tanta intimidade que nos leva junto consigo. Assim como Father John Misty e o seu 'Pure Comedy' que desconstrói a América de Trump e a nossa sociedade como um todo.

Lamar mostra que é o maior artista dessa década com o seu DAMN.


Um som mais eletrônico, guitarras pesadas e um desejo de libertar-se de si mesmo. Em 'Sleep Well Beast', o The National ainda mantém a mesma sensibilidade nas composições e isso os faz uma banda mais completa com o tempo. Do outro lado do atlântico temos os franceses do Phoenix trazendo um disco novo caloroso como as ruas da Itália no verão. 'Ti Amo' é o sexto álbum da banda liderada pelo saltador de platéias Thomas Mars.

Se o ano de 2017 teve um álbum profundo e envolvente que tente chegar perto do novo do The War On Drugs, o grandioso 'A Deeper Understanding' vai ficar para trás. O vocalista Adam Granduciel, que ao vivo já causa, aqui nesse disco novo explora novos caminhos com melodias mais envolventes e melodias mais interessantes, como na dolorosa e estupenda 'Pain'. Um disco para guardar na parede.

A dupla mais gente boa do indie Kurt Ville e Courtney Barnett juntos fizeram um album genuino em muitos aspectos. 'Lotta Sea Lice' tem a assinatura dos dois, como se eles pudessem ter um filho juntos, unindo o que caracteriza bem o som de ambos, em um resultado bem mais do que satisfatório.

Na categoria sons que falam sobre amor perdido e um certo fim da inocência temos dois segundos álbuns de novos artistas de 2013 que estão de volta. Em 'Something to Tell You' das babies do HAIM e a mega super estrela Lorde com o seu 'Melodrama' trazem o que de melhor sabem explorar. As primeiras trazem aquela pegada Fleetwood Mac com baterias envolventes E a segunda bebendo de Phil Collins e Kate Nash. Dois discos tão dentro de si que fazem um dos mais belos registros da música feita neste ano, com um olhar no passado e caminhando no presente.

Babies HAIM de volta com o seu melhor trabalho em 2017.


Os irmãos Gallagher retornam em um duelo onde ambos saem muito bem em qualidade de seus respectivos álbuns. Liam Gallagher retorna com o seu primeiro album solo carregando boas composições e melodias que remetem ao seu tão amado Oasis. Já Noel Gallagher e o seu High Flying Birds mergulha no que ele próprio chama de um pop cósmico. 'Holy Mountain' e 'If Love is the Law' sem dúvidas já são uma das melhores coisas que o compositor da ex-banda de Manchester criou.

Bandas consagradas também conseguiram retornar a boa forma nesse ano. Neil Young trouxe dois novos trabalhos. Um antigo gravado nos anos 60 que ganhou a vida em 2017 ('Hitchhiker') e outro super recente com a sua banda Promise of the Real, 'The Visitor'. Robert Plant traz um dos seus melhores trabalhos de sua carreira com 'Carry Fire'. Assim como Morrissey que traz o seu 'Low in High School' com incríveis composições. Outro destaque vai para Thurston Moore que apresenta o seu 'Rock'n Roll Consciousness', que inclui uma faixa de somente 16 minutos que já é uma das melhores canções do ano.

O Arcade Fire que já virou banda consagrada retorna com o peso de discos extremamente consagrados com um disco ousado e completamente diferente do som anterior da banda. Em 'Everything Now', a banda traz reggae, sintetizadores absurdos e puro som vindo ali de ABBA e bandas dos anos 70 e 80. Uma deliciosa viagem por sentimentos humanos que se perdem com um mundo muito informado e acomodado com seu consumo que acaba perdendo a si mesmo.

Tudo Agora. Arcade Fire retorna em 2017 com o seu trabalho mais ambicioso. 


E claro teve U2 e o seu 'Songs of Experience' que tomou vida após anos em formação. Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. desnudam temas como mortalidade, motivações na vida, amor e família em um disco muito poderoso e envolvente.

Queens of the Stone Age e Foo Fighters que farão uma tour pela América Latina em 2018 retornam com os melhores discos de suas carreiras em 2017. Os primeiros trazem o seu de inicio polêmico album com o renomado produtor e DJ Mark Ronson chamado 'Villains' que acabou carregando o espírito da banda, desde os seus primordios. E o segundo com o seu 'Concrete and Gold' volta às origens de seu passado mesclando um som mais rock como o que era feito nos anos 90 por eles proprios.

Top 5 - Albuns do ano
1 - Ryan Adams - Prisoner
2 - Arcade Fire - Everything Now
3 - St. Vincent - MASSEDUCTION
4 - Spoon - Hot Thoughts
5 - Phoenix - Ti Amo

Ryan Adams fez o melhor álbum de 2017 muito pela sua capacidade de saber destrinchar sentimentos. Em 'Prisoner' vemos um compositor exímio e consciente de sua genialidade em divagar sobre o que amar significa de uma forma clara e por vezes sem quaisquer filtros. Na faixa 'Haunted House', Adams nos permite observar atentamente cada detalhe do lugar deixado pela amada no espaço real ou metafórico do relacionamento entre eles. Em outra faixa, a grandiosa 'Outbound Train' temos Adams trazendo em sua letras a sua visão moldada sob guitarras bem construídas e que crescem a medida que forma uma certa urgência, ao passo em que a canção encaminha-se ao refrão. Impossível não imaginar o que significa um coração partido ao ouvir esse disco, um dos retratos mais íntimos já realizados por um artista.

O show do ano foi o do Arcade Fire com a turnê Infinite Content. Em São Paulo, a banda de Win Butler faz um dos mais empolgantes shows ao vivo já visto por esse interlocutor. O mundo anda de mal a pior com tanta informação que nos perdemos ao redor de pessoas que não conseguem nutrir discernimento com o que é real ou não. No trabalho da banda vemos sobretudo no recente disco lançado esse ano, o monumental e muito subestimado 'Everything Now' essas fissuras expostas onde as pessoas não conseguem amar, viver, compreender informações. Ao vivo, a banda em um dos raros momentos em que somente o Arcade Fire conseguiria tal proeza vemos pura energia saindo do palco, onde nas letras desse disco inspirado por Talking Heads, Abba e na melodia entoada pelo público ali presente no Anhembi entregou um dos mais honestos retratos da simbiose música e sua importância com a do transmissor da mensagem a banda ali em cima de um palco com telões gigantes e cordas percorrendo o palco como em um ringue de luta. A banda ainda no término desceu o palco e foi batucar com a escola de samba Acadêmicos de Tatuapé. Em pleno Anhembi. Que show.

E feliz 2018 para todos!