domingo, 23 de outubro de 2016

Kings Of Leon voltam para cantar alegrias e decepções para grandes arenas

Image: NME - Explorando o pop rock

Há algo de interessante acontecendo. A banda dos Followill abdica de vez a imagem de sujeitos cabeludos e de roupa caipira e embarca de vez em uma mistura de pop radiofonico e visual hipsters moderninhos. A transição pode assustar os fãs dos primeiros discos, como "Aha Shake Heartbreak" e "Because of the Times". O choque é ruidoso e sonoro, porém não há como negar que a banda descobriu ser capaz de fazer bons hits.


Entretanto, por outro lado eles se mostraram talentosos o bastante no ultimo disco "Mechanical Bull" em dosar boas quantidades de profundidade nos discos mais country-garage do começo da carreira. Claramente que amadurecer faz bem, e aqui eles estão no auge limitados por uma sensação que fica de que a banda é agora comercial sem espaço para o indie. A sensação de que ter o frescor de uma banda independente faz muitas bandas criar uma atmosfera bela e não tão manchado e estridente como faz o pop muitas vezes.


Retornando as arenas... They're back to the chorus.


O mérito de "WALLS" é explorar todo a força das grandes canções feitas para festivais e estádios, com as letras bem feitas e refrões que vão do som pegajoso a delicada canção com tons interessantes. "Around the World", "Reverend" e "Find Me" são bons exemplos das canções que inundam o album de "catching songs". Não por isso são ruins. Estão mais para uma forma como a banda resolveu encarar o visual para esse sétimo disco. (Entretanto espero que não se torne uma marca para os próximos discos). Visual esse que segue os esteriotipos dos fãs decepcionados com o som visto de "Only By The Night" para cá: um pop barato e comercial. Na defesa dos Followill, eles são capazes de fazer mais do que músicas que tocam nas radios, mas eles fazem isso de uma forma boa e envolvente.


A faixa titulo "WALLS", talvez seja ao lado de "Muchacho" e "Waste a Moment" canções incriveis. A canção passeia por guitarras que dilaceram corações. "You tore out my heart. / And you threw it away. / The western girl with eastern eyes. / Took a wrong turn and found surprise awaits. / Now there’s nothing in the wayIn the way. / In the way. / In the way", canta Caleb Followill com a voz de um coração partido. Deixa ao final com essa música fechando o disco o vazio de todo sentimento de alegria e festa do começo do disco. Isso não faz de "WALLS" um disco primoroso, mas traz mais do que eles fizeram alguns albuns atras. Levando em conta que eles tiveram desintendimentos sério dentro da banda que poderia culminar no fim e separação, esse disco pelas entrevistas dadas parece ter revigorado a união entre eles. Se foi um disco de celebração e reunião entre eles, espero que inovem mais no proximo disco. Por hora, está muito bom assim.





sexta-feira, 6 de maio de 2016

A playlist perfeita.

* A ideia de criar A PLAYLIST DEFINITIVA para esse tempo.



As vezes me pergunto: Como é que raios eu passava há quinze anos atrás consumindo música comprando um álbum, e esse álbum custava os olhos da cara e a unica opção era ouvir o mesmo disco mil vezes?  Por que se comprar dois pode ter certeza que iriamos passar o mês vivendo de migalhas. Detalhe: muitos da minha idade, 20, 25 anos estavam no ensino médio, o que significa passavam o tempo todo sem grana. Até que surgiu o YouTube, lá pelos tempos de 2007, 2008 e podíamos dar um play em uma canção que consumia horrores de discagem da internet. Isso quando não resolvíamos baixar pelos programas Kazaa, Emule, Napster, etc. Esperando Jesus voltar, mas a música nada.

Hoje temos serviços de streaming que fazem toda o serviço de comprar todos os discos, baixar todos os discos esperando uma eternidade. E com isso vem playlists. E com isso vem a versão dos nossos tempos de fitas cassetes que fazíamos para pessoas que amávamos, sendo nesse caso, um pretexto para conquistar corações, amizades ou nossa propria pessoa, afinal a gente sempre se amou né.

Playlists faz o trabalho do psicologo muitas vezes. Você ouve uma sequencia legal e toma umas mensagem, embalado pelos ritmos certos. Não tem como se ignorar perante a nossa existência. Pode ser aquelas: Momentos de Solidão, Corações partidos, Decepções amorosas, Pensando na Vida, etc. No final, resta as doses de sentimentos aflorados.

Essa invenção divina foi massificado com a invenção realizada em Estocolmo, Suécia chamada Spotify. De lá pra cá, teve o Pandora nos EUA que fez barulho criando rádios especificas para certos assuntos. Teve Deezer, Rdio (hoje, RIP) e entre outros. No Brasil, tinha um chamado Sonora, do portal de noticias Terra. Era horrendo, mas inovava trazendo esse tipo de serviço aqui no Brasil. Em 2016, o país tem Google Music, Tidal, Apple Music, Napster (só o nome restou, do serviço Rhapsody), Groove, etc.

Nesse momento vivemos num oásis de conhecimento musical. Podemos entender muito, sem o menor esforço. A playlist imbatível é aquela que te mostra quem você é de verdade. Sem filtros, sem maquiagem. Ela tira a sua roupa e te deixa pelado, na frente das pessoas. No metrô, no parque correndo, na festa, no trabalho. Te deixa acima da existência, dançando enquanto percebe que a vida é uma droga e nada vai dar certo. Pode parecer desesperador pensar assim, mas ao som de The Black Keys em "Gotta Get Away" parece que não importa tanto. No final, somos nós mesmos.

* Frances Ha (Noah Baumbach, 2012) melhor filme. Greta Gerwig dançando ao som de "Modern Love", do Bowie. Melhor cena.





*Link interessante sobre a música nos dias de hoje... Uma observação desses tempos.



quarta-feira, 4 de maio de 2016

Queimem as bruxas. Nós sabemos aonde vivem. O novo som do Radiohead.

Atirando bruxas no fogo.

A banda que chacoalhou o rock dos anos 90, inovando com um som progressivo diferente de tudo o que foi feito (isso até aqui), com guitarras distorcidas, som pesado e letras provocadoras, está trazendo o novo som para um novo tempo. Radiohead é sinônimo de musica depressiva muitas vezes por se despir em suas canções de estruturas convencionais e buscar sons etéreos. Thom Yorke, o genial vocalista, deixa sua voz rolar, em meio a batidas e sons que ecoam em nossas mentes. Jonny Greenwood solta aquelas guitarras distorcidas lindas que fazem o som ambiente dessas canções majestosas, como as já unicas No Surprise, Jigsaw Falling into Place, All I Need, etc.

Depois do barulho causado, após apagar todos os perfis em redes sociais e deixá-los em branco, eles liberaram ontem o novo som. "Burn the Witch" é assustadoramente bela. A audição da canção parece simples, mas carrega um medo dos tempos em que vivemos.

"Red crosses on wooden doors
And if you float you burn
Loose talk around tables
Abandon all reason
Avoid all eye contact
Do not react
Shoot the messengers

This is a low flying panic attack
Sing the song of sixpence that goes"

O videoclipe é outra maravilha. Dirigido por Chris Hopewell, o filme foi feito com personagens animados feitos com massinhas, baseado em uma série infantil inglesa dos anos 60, chamada Trumpton. Há referencias ao filme "O Sacrificio" (The Wicker Man), de 1973.



Um belo retorno dos ingleses.



terça-feira, 3 de maio de 2016

Vinyl mostra a fúria musical de uma geração



* It's all about the songs, guys. Can you hum it? Will you remember it tomorrow? Does it make you want to call the radio station and ask who the band they just played was? Think back. Think back to the first time you heard a song that made the hairs on the back of your neck stand up, made you want to dance, or fuck or go our and kick somebody's ass! That's what I want! In two weeks.
                                                                                                        - Richie Finestra


Mick Jagger e Bobby Cannavale. Ambos separados pela ficção e realidade.

O mundo do rock teve um ápice em sua historia como gênero musical. Quando o blues inspirou um blues rock, guitarras mais rápidas, um som mais afinado, com melodias que passeavam por inspirados acordes, foi quando Elvis Presley surgiu, assim como Jerry Lee Lewis, Howlin' Wolf, Johnny Winters, entre outros percursores. Esses foram os anos 60. Ainda não foi o ápice. A Inglaterra tomaria notas do que acontecia em solo americano e aperfeiçoou o rock e o transformou em um delírio, uma projeção do que viria a ser o pop. Os Beatles trouxe novos elementos e transformou a industria em um negocio cada vez mais rentável. As gravadoras passaram a ganhar dinheiro como nunca. O ambiente promissor para a música abria as portas para um negocio lucrativo.

Os anos 70 chegaram com a ressaca do movimento hippie, Woodstock e LSD. A música ainda estava atordoada com os discos de MC5, The Stooges e The Velvet Underground, falando da realidade das ruas de Detroit e Nova York. Com os ingleses revolucionando com os sons do The Who, David Bowie e Led Zeppelin, a cena em NY trazia um barulho ensurdecedor. E é nesse ritmo que o produtor Terrence Winter, o cineasta Martin Scorsese e o musico lendário Mick Jagger se uniram para contar histórias do ápice do rock como gênero musical, inovando em ritmos, influencias e mercado musical passeando pelas ruas novaiorquinas da época.



A ideia inicial era fazer um filme longo. Que passasse das três horas de duração, contando uma epopeia musical, tendo a cidade de NY como palco dessa revolução. Essa ideia partiu dos "bons companheiros" Martin Scorsese e Mick Jagger. Com a entrada de Winter, amigo de Scorsese e produtor de séries como Sopranos e Boardwalk Empire, a intenção de dar espaço narrativo para mais histórias em uma série ganha força. 

A HBO abraçou a ideia e lançou a série em Janeiro desse ano. O primeiro episodio é um soco no estomago. "That's rock n' roll -- it's fast, it's dirty, it smashes you over the head.", esbraveja Richie Finestra, interpretado soberbamente pelo ator Bobby Cannavale. Finestra é dono da gravadora "American Century Records" que anda passando por maus bocados, com artistas saindo e as dividas crescendo.

O envolvimento de Richie Finestra com o som bluezero de Lester Grimes (Ato Essandoh), foi o motor que impulsionou sua vida a frente de uma gravadora. O que trazia Grimes, um talento nato, foi lapidado até chegar em um produto musical popular e desperdiçado. Finestra se sente mal e sabe que não valorizou o talento que tinha, muito em parte, em detrimento do envolvimento de Maury Gold, um mafioso dono da gravadora que coordenava as ações de Finestra em seu começo de carreira. O que a história nos deixa são histórias de fracasso em meio ao brilho do rock, por que se houve glamour foi nas drogas, sexo e rock'n roll. O que os musicos, empresários e pessoas proximas sentiam era um completo vazio.



A mafia e o rock'n roll americano tem uma relação estreita e isso não é mais novidade. O que 'Vinyl' traz é uma viagem por dentro desse negocio. E ninguem melhor para dilacerar esses eventos do que Martin Scorsese, principalmente no piloto da série que dirige.

Não tem como não se sentir tragado, como uma poderosa droga no corpo, vendo essa série. O som do rock vibrante, tão presente em livros sensacionais sobre o periodo como 'Mate-me Por Favor' de Legs Mcneil e Gillian Mccain está aqui mais vivo do nunca. O som que saem das guitarras do Nasty Bits, banda liderada por Kip Stevens (James Jagger, sim, filho de Mick Jagger) que na série se entrega de corpo e alma ao papel. Destaque para a atriz Juno Temple como Jamie Vine que faz o interesse sexual de Kip Stevens e a estonteante - e que olhos - Olivia Wilde que interpreta Devon, a queridinha de Andy Warhol e futura esposa de Finestra. Outros destaques são os outros sócios da American Century Records, juntos de Finestra, interpretados por P.J Byrne (Scott Levitt), Ray Romano (Zak Yankovich) e Annie Parisse (Andrea Zito).

fonte / HBO


A série não empolgou muito entre o publico, mas a HBO renovou a série para a segunda temporada. Com a saida de Terence Winter como um dos showrunners responsaveis pela série, devido a diferenças criativas e a entrada de Scott. Z Burns ("O Ultimato Bourne") e Max Borenstein ("Godzilla" e "Minority Report") como produtores executivos, deixa a série sem muitas perspectivas certas de como se dará as próximas temporadas. O que fica dessa primeira temporada é a explosão em nossa cara, com um roteiro afiado e viciante, 'Vinyl' é uma série que promete ser marcante como 'Mad Men' foi recentemente. Uma história sobre uma época unica em uma Nova York do passado. Os dez episódios são tão viciantes quanto uma tirada de cocaína no sangue.


quarta-feira, 30 de março de 2016

A música ficou chata, ela vai mudar e nunca mais será a mesma

* Essa vai para os corações cheios de vontades de não ouvir mais os mesmos top 20 nunca mais na vida


Um Kevin Parker ouvindo sons e fazendo sons. Photos by Photographed by Matt Sav


O som mudou mas ainda continua o mesmo. Dançamos, choramos e corremos atrás de sons que definam nossos momentos nessa vida na Terra. Vida sem sentido, cheio de vazios. Ouvir canções se tornaram uma forma de reagir as dores dessa vida. A expressão de fúria, calma e vertigem. O som que era blues, virou rock, que ficou chato e virou um rock ainda mais rápido e curto, o punk, que trouxe o grunge, que antecedeu o rock progressivo e new wave. A certeza é que não somos mais compostos por gêneros - sejam musicais, políticos ou sexuais - digo no presente, o presente de fato. O ano de 2016 pode ser definidor para os rumos da música, como expressão artística e para a relações e reações entre indivíduos.

E nesse vai e vem dos dias de hoje, fazer música virou uma expressão de construir a mistura exata do que se ouvir. O hip hop teve um papel tão importante quanto o jazz e o blus nessa mistura. Assim como sons eletrônicos, provenientes dos anos 80 em diante. O jornal inglês The Guardian postou nesse mês uma reportagem sobre esse tema escrita por Peter Robinson, editor do site Popjustice e que contribui para a NME. A música feita hoje, numa rápida observação panorâmica pode ser muitos sons em uma só música. David Bowie, sempre a frente do seu tempo, pareceu em seus últimos discos em vida, querer mostrar como a música é no futuro: sem rótulos.

Músicos novos e os mais contemporâneos buscam não mais um som, como o rock'n roll e o hip hop. Buscam a expressão de sons que ouvem e se identificam. A neo-zelandesa Lorde, aposta de Bowie como uma imagem do futuro da música, mescla o rap com o rock, transitando pelo pop e fazendo sons que invadem pistas eletrônicas. Seu som pode ser rotulado de Alternativo, o que nada mais é do que um rotulo que simplifica a essência desse som modificado presente hoje. O Indie, que na realidade, não é independente, já que Florence + the Machine deixou de ser indie depois de seu segundo disco. O que marca a música, como expressão artística, é a sua multiculturalidade. O Arcade Fire, ao expressar na música de seu último disco, "Normal Person", antes de iniciar a canção, o desabafo: "Oh man, Do you like rock and roll music? 'Cause I don't know if I do", indica bem o que a música é hoje em dia, quando uma das maiores bandas de 'rock' expõe isso, em um disco repleto de influencias caribenhas.


Finestra e sua busca pelo som de rock perfeito. Vinyl/HBO.


A Rihanna hoje faz cover do Tame Impala e o Ryan Adams faz um disco todo de cover da Taylor Swift. Justin Bieber tem hits que não são pop convencional, e sim belas gravações moldadas por Diplo, o produtor influenciado por tudo quanto é gênero. A NME é uma revista gratuita que coloca o Bieber na capa, porque não diz mais o que se dizia décadas atrás. As batidas, o furor e a energia criativa das músicas feitas no passado representam exatamente aquilo que não existe mais. Gêneros musicais são importantes hoje como ingredientes, e não mais como o prato principal. Quem busca referencias no Every Noise at Once, que acha playlists no Spotify ou Tidal, não mais se orienta por tipos. O que buscava Richie Finestra, na série produzida por Martin Scorsese e Mick Jagger, na HBO, em sua gravadora, é o som de um tempo que se misturou a todos os tempos até aqui. O rock se sedimentou, como já confessou Sergio Pizzorno, guitarrista do Kasabian. "O rock está morrendo." Outro que seguiu nesse desabafo foi o guitarrista da lendária banda de rock Kiss, Gene Simmons, em uma entrevista para 'Esquire':

"There was an entire industry to help the next Beatles, Stones, Prince, Hendrix, to prop them up and support them every step of the way. There are still record companies, and it does apply to pop, rap, and country to an extent. But for performers who are also songwriters — the creators — for rock music, for soul, for the blues — it's finally dead. Rock is finally dead."

A música está chata. Estivemos um tanto de tempo parados olhando para o pop do final dos anos 90 até o inicio dos anos 2000, o rock, o hipo hop, a mídia musical segmentando gêneros. Esse tempo acabou, mais ainda respiramos a incompreensão do barulho que ainda causa a falta de criatividade. Não ouvimos mais canções com o peso do passado, entretanto esse é o futuro. Não houve mais bandas que expressassem a atitude de um tempo. O Kanye West tem atitude, mas é burra - não desmerecendo sua genialidade. Tudo está distribuído entre nós. A solução, se essa é a solução, talvez seja não separar artistas e abraçar uma época que redefine o som, como abrangente forma de fazer sons. Será uma bela opção a ser dada.

Os Stones fazendo sons de uma geração. Fotos da Olympic Studios.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Como salvar os super-heróis?

*Uma reflexão sobre o momento cinematográfico em que vivemos.



Image via Empire


O cinema, como arte barata feita para o proletário se entreter - o que nisso não há nada de ruim e sim de bom já que arte muito conceitual e seletiva é chata e esquecível - vem trazendo nos filmes de super heróis um nicho de centenas de produções para encher salas multiplex de shoppings. Se o passado do começo do século passado era dominado por faroestes/filmes bíblicos, comédias pastelão e romances épicos, o começo desse século só tem quadrinhos.

O problema disso é que os heróis não cabem mais na fantasia e são demasiadamente realísticos. Essa afirmação tem seu lado verdade, mas não sobrevive a ideia de que não vivemos no mundo de fantasia dos EUA na Guerra Fria, onde o outro lado socialista ditava o mal. A mitologia dos heróis que vemos nas telas ainda baseados naquele cenário, promove em sua versão atual no cinema essa aproximação com a realidade que até é positivo.

O novo filme 'Batman Vs Superman - A Origem da Justiça' trata-se de uma reflexão acerca sobre heróis no cinema hoje em dia, ou pelo menos soou para a minha pessoa. O confronto entre dois seres anormais em uma realidade onde a humanidade dá espaço para grandes corporações com poderes ilimitados, como a LexCorp, não é verossímil. O bom do filme é justamente pensar nos super-heróis como responsáveis por defender a humanidade do mal, seja esse qual for, nos dando o conforto de que em meio a Estado Islâmico e terroristas, há seres com poderes capazes de derrotar essas ameaças. A própria humanidade, como fica explicito no filme, se torna a maior ameaça. E nesse responsável, a figura de todos os que sentiam repulsão pelo ser alienígena Super Humano.

Passado o frenesi, 'BvS' é um filme inacabado, justamente por não propor um enredo que funcione para lermos o filme em um formato. O filme todo não ganha um formato. O que Zack Snyder faz é entuchar em um só filme o que a Marvel levou anos de filmes para fazer: apresentar os super-herois de forma compreensível. Buracos no roteiro, soluções risíveis para dilemas entre os personagens, um começo de filme que poderia ser facilmente cortado do filme. No final, desejamos ter visto mais de uma só história que fizesse sentido, uma em que de preferencia colocasse um protagonismo em um embate prometido e que não se concretiza. Qual o sentido desse filme?

O que importa é achar que esses super humanos podem existir. No caminho, pode haver exageros, desde que não nos soe forçado demais, caricaturístico demais. Os filmes do Batman, dirigido pelo mestre dos exageros Tim Burton foi um retrato dos exageros dos anos 90. Ainda soava plausível crer no surreal no que se tratava de homens morcegos. Hoje, só pode soar antiquado e sem graça. As versões do diretor Christopher Nolan ensinou para a critica e publico que lugar de super heróis é no mundo real sombrio e cruel.




Na visão da Marvel ainda podemos sonhar, já que seus personagens são atemporais (ou pelo menos, muitos deles), tais como Homem Aranha e Hulk. O que não deixa de fora a profundidade de temas atuais como vistos nos recentes Vingadores e Capitão América. Ainda assim, as histórias parecem soar tudo o mesmo saco de tramas. Os filmes do Thor são um saco. Assim como os novos Homem Aranha. Já não há mais espaço para historias tradicionais de super heróis. É preciso radicalizar e mostrar algo interessante. Projetos como Deadpool são um frescor ao marasmo de sacos cheios de uma platéia sem paciência para esse gênero monótono.

A salvação para os super-heróis é não ser super-heróis. Ser, no lugar de messias da humanidade, figuras apaixonantes por construir o fantástico em cima de fracassados. Como nós.

As séries da Marvel no Netflix parece seguir o caminho certo. Essa é uma época em que o protagonista de filmes assim mora em lugares atípicos, tais como o herói da série Mr. Robot. Pode ser qualquer um, não precisa ser rico ou ter super poderes.


domingo, 3 de janeiro de 2016

Alguns seriados de 2015...

*Porque é sempre bom falar sobre séries. 

 

 

Don Draper cansou da vida corporativa e nos tornou pessoas diferentes no final de Mad Men










Foram fins de semana difíceis. Deixamos de lado nossos amigos, família e toda uma vida linda lá fora. Deixamos de nos molhar na chuva (argh!), correr em parques e postar no Snapchat o quanto corremos, ou tirar fotos enquanto conhecemos lugares novos. Ah e claro, deixamos de aproveitar nosso tempo aqui na terra, mas nesse caso foi por um bom motivo.

Vimos séries. E vimos muitas. E o melhor: foi bom, barato e não precisamos nos enganar tentando mostrar vidas sociais ativas para os outros. Trocamos as rodas de conversas sobre ser homens e mulheres no ano passado, por rodas de conversa no Twitter sobre quem era o personagem de Colin Farrell na segunda temporada de True Detective, ou pura e simplesmente quem era quem naquela teia louca de eventos disparados. Outra pergunta recorrente era quem era esse ator chamado Rami Malek? E quem era o tal do Mr. Robot?

Se nos perguntassem assuntos que não fossem séries poderia soar como uma ofensa até. "O que você acabou de me dizer que você não assiste Game of Thrones?".  A amizade acabaria de sofrer um golpe grave demais ali. Relações humanas em 2015 passavam portanto pelo filtro, "você assiste séries? E quais são?"

Enfim, diante desse novo modo dos seres humanos interagirem aqui eu despejo o que pra mim foram as 15 maiores séries. Aquelas em que se você ainda não viu, me faça o favor de deixar de me seguir nas redes sociais e me esquecer tipo pra sempre.


 

Girls (HBO)


Hannah passou por poucas e boas na quarta parte da série.
 A situação é a seguinte. A protagonista Hannah (Lena Dunham) vai sair de Nova York. Ela vai aperfeiçoar sua carreira de escritora num workshop em Iowa. A relação dela com o namorado Adam também mais conhecido em 2015 como Kylo Ren já que é o mesmo ator (Adam Driver) vai de mal a pior, assim como o relacionamento com suas amigas e revelações sobre a sexualidade do seu pai. Série mais que bem escrita pela mesma atriz protagonista, uma daquelas obras que te faz perceber que a vida de garotas e garotos próximos da idade de virarem adultos não é fácil. É dura, injusta e insensível, mas faz parte.



 Parks and Recreation (NBC)

A série hilária chega ao fim.
Fomos parar em 2017. Leslie Knope (Amy Poehler) se torna uma das politicas mais importantes dos EUA ao lado do seu marido Ben Wyatt (Adam Scott). Vemos os personagens, os lugares e todos que um dia passaram pela série se despedindo. Para os que não viram as outras seis temporadas, já que estamos aqui na sétima temporada, vale a pena ver essa temporada pelo clima de despedida que abraça os 14 episódios, participações de Bill Murray. Com um humor que é ingênuo, mas nem por isso menos criativo, foi uma das melhores criações da TV americana pelos lados da comédia nos últimos anos.  




 The Jinx, The Life and Death's of Robert Durst (HBO)

A mesma letra em cartas diferentes cartas. O monstro se contradiz.
 Para quem assistiu o filme "Entre Segredos e Mentiras" (2010, All Good Things, titulo original) descobriu a figura de Robert Durst. Um milionario herdeiro de uma das maiores fortunas dos EUA, de onde boa parte dos prédio de Manhattan pertencem a sua familia desde a muito tempo. A série desvenda sua infância traumática, sua primeira esposa desaparecida de forma pouco convincente, os crimes confessos e os em que ele é acusado. Entre os crimes estão os contra um senhor no Texas e sua melhor amiga no passado que sabia demais. O diretor e produtor Andrew Jarecki desvenda numa série de seis episódios a mente diabólica de forma ágil, dinâmica e inteligente. E o melhor da série que não poderia ficar melhor, ainda apresenta um desfecho inesperado que leva o Sr. Durst de volta a prisão em que havia escapado no passado, usando seu dinheiro e poder.




Wayward Pines (Fox)


O medo nunca esteve tão próximo e real.
Um certo momento passa e o agente do Serviço Secreto Ethan Burke está distante de sua família em um vilarejo asssustador depois de um acidente. Com o passar do tempo, ele que estava a procura de dois agentes desaparecidos descobre algo muito mais difícil de entender racionalmente. Sua esposa e filho aparecem e tudo começa a ficar mais estranho. M. Night Shyamalan volta a fazer excelentes historias, depois de recente fracassos no cinema. O desfecho é totalmente imprevisível. Destaque para o ator Toby Jones.



  
BoJack Horseman (Netflix)

Uma série sobre a vida do ator da antiga série "Horsin' Around"
 O cavalo mais humano volta com o seu peculiar humor e tiradas geniais sobre a vida de uma celebridade em Los Angeles. BoJack Horseman vai viajar os EUA, interpretar o papel dos seus sonhos, conhecer uma nova garota, entretanto o seu vazio por dentro parece deixa-lo fora de sintonia. As vozes de Will Arnett (BoJack), Aaron Paul (Todd), Alison Brie (Diane) e Amy Sedaris (Princess Carolyn) são perfeitas demais para os desenhos, o roteiro divertidíssimos e tão reais que nos faz sentir que parte de nós poderia estar nesses personagens. Ícone da cultura pop em 2015. Nunca ouviu falar de BoJack Horseman? Sai da minha frente.




Ballers (HBO)

The Rock é a grande surpresa dessa série sobre futebol americano.
O local é Miami. Os maiores nomes da NFL (Liga Nacional de Futebol Americano), que jogam nos Dolphins vivem regrados a dinheiro, carros de luxo e mulheres. Festas são parte da rotina dos personagens dessa série, entretanto muitos sofrerão tentando manter o luxo e o conforto. É ai que o personagem de The Rock, Spencer Strasmore entra. Ele foi um grande jogador e agora trabalha para uma agencia para cuidar de outros jogadores. Como uma espécie de versão para o 'american football' da antiga série também da HBO, 'Entourage',a sensação que nos traz é de uma visão sem pudores do universo dos atletas, da falta de um projeto pós futebol para uns, à preocupação com a saude que as batidas podem causar.


 


Jessica Jones (Netflix)


O vilão Killgrave é quem dá as cartas.
A segunda empreitada da Marvel junto com a Netflix foi a adaptação de uma personagem desconhecida do publico. Jessica Jones surge da série de HQ's Alias, numa trama densa e sombria. Ela é uma detetive que vive de trocados numa Nova York suja e cheia de bandidos. Um deles na realidade é um psicopata com traumas familiares. O melhor nessa série é o vilão Killgrave (David Tennant). Sua capacidade de controlar mentes torna tudo imprevisível. Não tem um só instante em que os personagens da série não corram perigo. O roteiro é bem coeso e a personagem é tudo aquilo que uma mulher deve ser: sem medo de homens valentões. 




Mr. Robot (USA)

 
Power to the people.


Fomos convidados para entrar na mente de Elliot. Um hacker de 20 e poucos anos que faz terapias dado ao seu comportamento. Ele tem como hobby bisbilhotar a vida alheia. Ele trabalha numa empresa chamada AllSafe que presta serviços de suporte tecnológico para a Evil Corp. uma das maiores empresas do mundo. Isso até ele ser surpreendido pelo Mr. Robot e seu time de hackers. A missão destes é derrubar todo o sistema financeiro e eliminar as dividas dos pobres. A trama é engenhosa e tem uma fotografia incrivel. Os dialogos e os pensamentos de Elliot são fora de série. A semelhanças com o Clube da Luta são bem presentes nos desfechos o que torna tudo muito mais intrigante. Até mesmo na ultima cena não há desfechos, mas sim mais suspenses.




 Show Me a Hero (HBO)


Ao som de Bruce Springsteen...

Essa é uma minissérie baseada em fatos reais que conta a história do ex-prefeito de Yonkers Nick Wasicsko, que esteve no poder em 1987, durante uma grave crise de moradias. Devido a uma decisão judicial, o municipio foi obrigado a construir edificios residenciais para pessoas de baixa renda, o que causou um alvoroço entre os cidadãos que moravam ali, boa parte de classe média e aposentados. O retorno a TV de David Simon, criador da série 'The Wire', como co-criador, junto da direção impecavel de Paul Huggis, diretor do vencedor do Oscar, Crash-No Limite, somada as atuações incriveis de Oscar Isaac, Winona Ryder e Alfred Molina fazem dessa minissérie imperdivel. Além da trilha sonora cheia de canções do 'boss' Bruce Springsteen, embalando o clima dos anos 80 na série.   





Master of None (Netflix)

Os amigos de Dev assistindo a série Sherlock. Genial.

 Não é fácil ser indiano em Hollywood. Os papéis estão sempre próximo dos clichês de personagens médicos, amigos engraçados, expert em tecnologia, etc. O que Dev (Aziz Ansari) quer é algo mais em sua carreira como ator. Algo mais em sua vida pessoal também, em seus relacionamentos e amizades. Somos todos Dev. Sentimos íntimos em seus fracassos na vida. Da trilha sonora, aos diálogos. Da arte conceitual da série que parece ser inspirada em filmes franceses (uma ode aos hipsters de hoje?), tudo lembra a sensibilidade de historias contemporâneas de 2015, das curtidas no Instagram, dos 'matches' no Tinder. É muito pessoal ver Master of None.





Fargo (FX)

Os vilões dessa série são muito bons.

 Os crimes que aconteceram em Fargo, em Luverne e em outras regiões mais uma vez foram infortúnios de pessoas simples que só queriam viver suas miseráveis vidas. "At the request of the survivors, the names have been changed. Out of respect for the dead, the rest has been told exactly as it occurred" (A pedido dos sobreviventes, os nomes foram alterados. Em respeito aos mortos, o restante foi contado exatamente como ocorreu.), diz a mensagem que logo abre a série e diz que os eventos foram baseados em historias verdadeiras. O que obviamente é uma forma dos irmãos Coen nos avisar (já que a história e essa frase de abertura pertencem ao filme dos anos 90 de mesmo nome) para prestarmos atenção na história surreal. Tudo é ficção, mas fica mais interessante se for real. O surreal. Nessa segunda temporada, a história se passa em 1979 onde temos um casal (Ed e Peggy, interpretados por Jesse Plemons e Kirsten Dunst) que se envolvem numa série de desventuras após Peggy atropelar um mafioso. O policial Lou Solverson (Patrick Wilson), aqui mais jovem do que na primeira temporada, junto com o policial Hank (Ted Danson) vão atrás do casal de criminosos. Brilhante enredo, fotografia e muito bem escrita. Através de uma garota que trabalha no açougue de Ed, fui introduzido à obra de Albert Camus, O Mito de Sísifo, onde uma pessoa é castigada ao árduo e rotineiro trabalho de rolar uma pedra morro acima até o topo, mesmo sabendo que no fim ela rolaria sozinha para baixo. Isso todos os dias. A morte é o que nos espera, nosso trabalho na terra é empurrar a mesma pedra. Tudo é em vão. Que série fantástica!


Outras séries incriveis de 2015...

 Narcos (Netflix), Silicon Valley (HBO), The Brink (HBO), Daredevil (Netflix), Game of Thrones (HBO), The Knick (Cinemax), The Leftovers (HBO), Bloodline (Netflix) e a ultima temporada de Mad Men (AMC). :´(



A incrivel arte conceitual da segunda temporada de The Leftovers.