domingo, 23 de dezembro de 2012

"Eu vi o futuro do rock 'n roll e ele chama-se Bruce Springsteen"



E completou dizendo: "Em uma noite em que precisei me sentir jovem, ele me fez sentir como se escutasse música pela primeira vez". Foi o então crítico musical Jon Landau que proferiu a tal frase que percorreu a mídia na época, inicio dos anos 70. O mesmo que posteriormente viria a ser empresário, produtor e amigo intimo do astro.

Um som saia de uma guitarra Telecaster em um ponto qualquer de Nova Jersey. Um garoto de vinte e poucos anos saia com sua guitarra e tornava em público o estrondo que suas canções ainda não tinham, mas que logo teriam. Em 1972, foi contratado pela CBS, que lhe entregou a alcunha de "novo Bob Dylan". Um garoto que trazia em suas canções a busca da identidade americana, num sentido libertário e inquieto que nos fazia chegar mais próximos dos aparelhos de rádio para prestarmos a devida atenção aos donos desse poder invisível, o simples trabalhador americano. O nobre e inquieto ser que vaga com seus anseios sendo demolidos por um sentimento de não pertencimento ao sonho americano. Sua voz ecoava num palco com tamanha eloquência que muitos consideram seus shows, a maior experiência ao vivo que se pode ter. Dada a energia e o poder que desmonta, trazendo canções demolidoras, que nos tomam de assalto e conduz a mente num misto êxtase e deslumbramento.

Bruce Springsteen, era o futuro do rock, e isso não era pouco. Ele demolia casas de show em Atlantic City, e fazia novos fãs a cada dia. Antes, teve que superar as dificuldade de uma vida sem recursos. Seu pai vivia de bicos e do que tinha para sustentá-lo. Ele nunca o encorajou a seguir na profissão de cantor, e sempre dizia que nunca daria em nada. A desilusão com a vida só o fez tornar amarga sua relação com o filho. Sua mãe, era secretária e foi quem comprou a primeira guitarra ao filho, após Bruce insistir demasiadamente. Ela foi uma das que viu nele uma vontade em ser um cantor. O que ela jamais imaginou foi que o filho se tornaria um dos maiores músicos da história, que viria redefinir o rock'n roll.

Após o contrato com a Columbia, Bruce trouxe seus companheiros de NJ  para formar o que seria a "E Street Band" e lançou seu primeiro álbum em 5 de janeiro de 1973, "Greetings from Asbury Park", uma declaração de amor a cidade e ao lugar onde nasceu, New Jersey. O álbum não engrenou, mas trazia as canções que se tornavam comentadas graças as suas apresentações ao vivo. Seu segundo álbum  "The Wild and The Inocent & The E Street Shuffle", lançada no mesmo ano, em setembro, teve o aval da crítica mas continuou sem grande apelo comercial. Foi então no terceiro e definitivo álbum que ele tomaria de assalto a América: Em 25 de agosto de 1975, o álbum "Born to Run" trazia um cantor estiloso numa capa branca vestindo uma jaqueta preta. O álbum foi difícil de sair e teve diversos contra tempos, problemas na criação das músicas e na coesão do álbum. O disco ficou em 3° lugar nos Estados Unidos em número de vendas. Ao final, a canção-título hoje é uma das mais extraordinárias canções de todos os tempos.

Tente ouvi-la ao vivo, na versão tocado pelo "Chefe", em Hyde Park, em 2009.


O disco seguinte, "Darkness on the Edge of Town", foi mais sombrio assim como foram os dois seguintes: "The River" e "Nebraska". As letras ecoando um sentimento de desilusão e arrependimentos, em um folk e um r&b que o consagraria em faixas como "Out in the Streets", "Hungry Heart", "Racing in the Streets", "Badlands" e "The Promise Land". Ali estava a fisionomia do americano em frangalhos, buscando formas de se achar em meio as dificuldades, em cacos, rachada. Sua popularidade era grande, mas ainda carecia de hits e um disco a altura do seu nome. Veio "Born in the USA", em 4 de junho de 1984. Uma onda tomou conta do país como um todo e seu nome estava nas alturas. Bruce Springsteen ganhava na capa, sob a bandeira americana, com sua guitarra, seu boné vermelho no bolso de uma calça jeans, a figura icônica dos anos 80. Sua fama ganhou o mundo e suas canções mostravam agora o orgulho americano. Canções como "Dancing in the Dark" e "Glory Days" possuíam melodias irresistíveis e dançantes, assim como todo o álbum que exalava uma America mais alegre, e com frustrações ao melhor modo que Bruce sabia passar, em melodias fáceis e sintonizadas com as pessoas comuns, que davam o seu suor durante o dia e vivia seus anseios de alcançar o "american way of life" em sua plenitude. A ideia do título do disco é em menção aos soldados que vieram do Vietnã e regressaram ao país. Ele, assim como muitos sofreram a perda irreparável de colegas e amigos na guerra durante a sua adolescência  e de certa forma lidou diretamente com a dor desse conflito. Mesmo assim, foi acusado por muitos na época de ufanismo e nacionalista pelo modo como o disco exprimia o apresso pela terra natal, principalmente pelo modo como o disco, as canções e os videoclipes expunham a bandeira americana e a força de um país.




Após esse trabalho, ele se separou da "E Street Band" e passou os anos 90 todo em carreira solo, trazendo  álbuns como "Tunnel of Love", "Human Touch" e "The Ghost of Tom Joad", que teve relativo sucesso. Se reuniu novamente com eles em 2001, após um bom tempo separados. O disco "Live in the New York City", foi o recomeço com a banda que o acompanhou desde o inicio. Logo seguinte, lançou "The Rising", em 2002, com referencia explicitas a situação do país após o 11/09. Vieram "Devils and Dust", "Magic" e "Working on a Dream". O mais recente trabalho, lançado neste ano, "Wrecking Ball", foi anunciado por seu manager Jon Landau como o retorno do "The Boss" em um disco visceral e intenso, nos moldes de "Born to Run". O 17° álbum em estúdio é o retrato dos Estados Unidos nessa traumática fase pós-crise, onde a ganancia de Wall Street corroeu o Estado e deixou muitos cidadãos desamparados. Uma corrida insensata pelo dinheiro, sob o olhos de uma casa branca desatenta e preocupada com suas guerras. Um país em construção, onde seus trabalhadores, os protagonistas dos seus álbuns vivem na penumbra sem empregos. Alheio a tudo isso, sentiu que podia contribuir, como sempre, com canções de superação e entusiasmo.

Na primeira faixa do álbum  "We Take Care of Our Own", é a voz da América se perguntando, "quem olhará por nós?". A música é poderosa como uma Born To Run, sem tanta daquele romantismo, e mais com um desejo de escapar tão somente, mas sozinho em meio a "armadilha" da vida. Em "Rocky Ground" e "Land of Hope and Dreams", o piano e as guitarras trazem a dor, mas com uma dose cavalar de esperanças. Verdadeiros hinos dessa geração, vindos de um senhor de 62 anos de idade. Ele brilha com maestria com sua guitarra Telecaster (sempre), soltando faíscas. O álbum todo é um dos melhores que ele já fez em sua carreira, e definitivamente o melhor da atual safra com a E Street Band. Apesar da ausência do saxofonista Clarence Clemons, que morreu em 2010, com quem dividiu os palcos, vida e estrada, a banda consegue dar uma voracidade tremenda como seu estivéssemos nos anos 70, 80, vivenciando o seu apogeu. E quem disse que eles não estão?  É impressionante. E de Bruce, temos a mesma força e energia das décadas passadas.

Ano que vem, vou comprar meu ingresso e vou ao Rio de Janeiro. Vou vê-lo. Pretendo dormir dias na fila para sentir de perto essa fúria que só quem já ouviu falar de seus concertos ao vivo, entende a minha expectativa. Sou fã incondicional desde quando vi o famoso videoclipe em que ele dança com uma jovem Courtney Cox, num palco, a música icônica "Dancing in the Dark". Ele é um dos artistas que quero ver ainda nessa minha vida, e não posso dar bobeira mesmo. Minha expectativa é de saber que é no ano que está preste a começar que o verei de perto. Em seu site está lá, e meu coração bate forte, por que desde 2007, ano que me lembro, foi onde me enfurnei em suas canções, buscando o que somente nelas me senti confiante em compreender e virei fã. Sempre pensando comigo mesmo, sua ultima vinda ao Brasil foi em 1993, num show no Parque Antárctica  no então estádio do Palmeiras. Saber que ano que vem ele tocará aqui no país é um alento.


Nesse ano foi lançada também sua biografia, "Bruce", escrita por Peter Ames Carlin, que conta sua vida particular, sua infância, seu sucesso e a sua consagração como uma das maiores lendas do rock'n roll. Revela seus sonhos e pesadelos, sua história. Quero ler antes de embarcar para conhecê-lo, em setembro do ano que vêm. Ele é uma pessoa que me inspira como ser humano, que buscou sempre alcançar seus limites e ultrapassá-los, quando jovem ao buscar mostrar-nos a força de um sonho, em se tornar um grande cantor. Todos que estiveram ao seu lado durante sua vida dizem que ele é uma das pessoas mais humildes e simples que já conheceram, mesmo sendo um dos grandes da música. Acho muito nobre isso, mas acima disso, gosto do modo como ele transmite sua música, com inventividade e criatividade mesmo tendo 62, e contando. Me inspira ele ter calcado sua história sem ambição desmedida e deslumbramento com o sucesso que teve.


Em sua carreira já ganhou dezenas de prêmios importantes, como vinte Grammys, quatro American Music Awards e um Oscar. Símbolo de uma America que vivia sua plenitude econômica e politicamente nos anos 80 e 90, ele mais do que traduz a força de um país, mas de sua incapacidade de se resolver seus anseios e fracassos. Ele traz para sua música, não somente os residentes do seu país, mas de todo o mundo, que se servem de letras que exprimam nossa fragilidade humana, e isso ele o faz como ninguém, porque o modo como molda as melodias e as suas apresentação ao vivo, nos faz perceber que apesar dos problemas, temos o exemplo do que há de melhor no espirito protestante e capitalista da América, que é esse sentimento de sempre se renovar e crescer, vindo do que há de melhor da música no lado norte do continente.

Incrível relato que deu a revista The New Yorker, sobre sua vida em 30 de julho desse ano. Emocionante. Links: http://www.newyorker.com/reporting/2012/07/30/120730fa_fact_remnick?currentPage=all

Ouça aqui o álbum que ele lançou em 11 de novembro de 2003, com suas maiores canções:




sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Crítica: Argo




Observando de longe, há algum tempo atras, Ben Affleck era um ator mediano e sem muita consistência. Fazia o tipo de um galã que assumia a frente de filmes com pouco conteudo e que não fazia muita a diferença frente as cameras com a atuações que o detacasse. Bem, isso não mudou aqui e nem é algo que veio a melhorar, mas ele cresceu. Não como ator, que venha a ficar bem claro, nada contra afinal tenho por ele grande estima. Apenas o reconheço como um ator bom e regular. Os roteiros fazem a diferença e aqui não quero deixar de fora e nem ao menos ocultar que tendo escrito um roteiro com o também ator Matt Damon,  venceu o Oscar de melhor roteiro original por Gênio Indomável. Sua reputação talvez tenha sido manchado um pouco sua trajetória, ou engrandecido seu leque de experiencias em diversos tipos de generos. Sua ambição talvez sempre esteve enquanto filmava Demolidor - O Homem sem medo ou A Sombra de Todos os Medos. Dois blockbusters que definiram sua filmografia ao lado de outros tantos. Almejava se tornar um diretor de cinema. E se voltarmos àquele Ben Affleck capaz de escrever roteiros oscarizados, não devemos subestima-lo. 

Após dois filmes muito bons. Medo da Verdade (2009) e Atração Perigosa (2010) são duas espécimes que possuem algo de catártico, intrigante e que prende a atenção. Adoro o clima frio e ágil que conduz sua câmera  E aqui em Argo (2012), Ben, ator que atualmente é casado na vida real com a linda atriz Jennifer Garner, vai além de suas ambições, até mesma aquelas suas em que devia pensar enquanto almoçava no seu trailer no intervalo das filmagens de seus antigos blockbusters. A dimensão que seu filme anda tomando pode levá-lo a ganhar o Oscar de melhor diretor ano que vem. E não é pouco. O filme é brilhante. Conta a história de um grupo de diplomatas americanos que escapam da embaixada em Teerã, no ano de 1979 em meio ao tumulto causado pela revolução islâmica no Irã, cuja a causa é a decisão de os Estados Unidos dar asilo ao seu antigo aliado, o xá Reza Pahlavi, despertando o ódio e a fúria de toda a população pelos EUA. Sem ter para onde ir, os diplomatas encontram abrigo as escondidas na embaixada do Canadá. Sob o risco de comprometer o país vizinho, a CIA convoca seu melhor agente para desempenhar o papel de socorrer os diplomatas americanos que ali se viam prestes a serem executados pelo regime de Ali Khamenei, radical que dominou o país. Esse agente interpretado por Ben Affleck tem a ideia de socorre-los fazendo um filme fictício que tenha como cenário o ambiente iraniano, para servir de desculpa para o plano ser posto em prática. Ai é que o filme degringola.
Com uma edição de arte e maquiagem impressionantes, somos tragados para os anos 70 em sua plenitude (desde a trilha sonora, passando de Aerosmith a Led Zeppellin), aos cabelos grandes e costeletas. Tudo nada superficial, mas verossimil. 

A tensão que o diretor Ben Affleck nos causa é sufocante e conduz o espectador a um deslumbre sem precedentes. O contraponto é a história referente a trama de Argo, o filme falso, que traz a tona atores brilhantes como John Goodman e Alan Arkin. O primeiro interpreta o maquiado vencedor de um Oscar, por o Planeta dos Macacos, John Chambers, já Arkin, faz o produtor Lester Siegel. Ambos nos brindam com dialogos hilários sobre a Hollywood que se desdobrava já naqueles tempos. Um humor que não contradiz, nem minimiza a tensão do filme, mas engrandece o filme. 
O ator Ben Affleck agora um dos mais interessantes diretores da nova safra, pode ver sua carreira deslanchar se vencer mesmo o prêmio da Academia ano que vem. Tô gostando do que ando vendo, desejo boa sorte a ele e que faça jus a tanta expectativa que deposito nele.