domingo, 7 de junho de 2015

Os homens loucos de Manhattan...

*Acabo de assistir o ultimo episódio de Mad Men pensando em todos os últimos sete anos...


A procura do Inferno


 *Antes de começar a ler deixem rolar o tema de abertura para entrar no clima...




Sentiremos sua falta Don Draper...

E suas amantes...


So many stories... #MadMenFarewell


Durante os últimos anos creio que muito mais do que qualquer outra série de televisão, a que mais me chamou a atenção foi Mad Men, e por razões bem óbvias. O fanatismo a série está no culto ao tempo e não digo somente ao tempo que se passa a série, numa Nova York dos anos 60, época em que os Estados Unidos estiveram no topo do mundo como emergente nova potencia econômica rivalizando em inovações com os comunistas da União Soviética. O tempo em que aprendemos a lidar com erros, acertos e tentamos nos moldar a uma realidade que nos convença, por mais que nos debatemos para nos acomodar a uma sensação de pertencimento a algo. Ao tempo que leva para nos machucar e aprender a lidar com as feridas. Ao tempo que descobrimos o que fazemos e o que deixamos de fazer. Tudo muito humano, tudo muito frágil.

O autor e criador da série Matthew Weiner cria um dos shows mais inovadores desde Sopranos, talvez. Elevou durante esses anos a criação de formas de contar histórias na televisão. Assim como na publicidade, ele inovou ao despejar toneladas de relações e contextos históricos em quase 50 minutos por episódio, alguns já clássicos da história de TV, como os "Meditations in an Emergency", sobre as mudanças que passam os EUA e o escritório da Sterling Cooper; "Waldorf Stories", sobre o dia em que Don recebe uma premiação; "Public Relations", sobre uma matéria publicada sobre Don Draper em um jornal; "The Phantom", sobre os bons rendimentos entre os sócios e mudanças na empresa; "Collaborators", sobre affairs de Don e casos de Pete; além dos últimos episódios da sexta temporada que são um melhor do que o outro, "A Tale Of Two Cities", "Favors", "The Quality Of Mercy" e "In Care Of", um dos melhores e mais bem escritas sequencias da série (como se fosse possível ser mais). Para os que gostem ou não, o último episódio da série, "Person To Person", também entra na lista dos clássicos, assim com o primeiro episódio da série, "Smoke Gets In Your Eyes", em diferentes perspectivas e sobre aspectos opostos. Se o começo dos anos 60 parecia o momento mais oportuno para mostrar todo o potencial da propaganda como instrumento para te fazer usar e consumir um instrumento que consome sua ansiedade num mundo em que a necessidade frenética de sublimar a intensidade de produzir o capitalismo e suprimir as vontades pessoais e psicológicas, nesse caso, os cigarros. O ultimo episódio tenta te vender a ideia de um novo ser, livre das pressões da realidade americana pós - Segunda Guerra e Vietnã. O importante é consumir a liberdade do ser e do indivíduo, seja mantendo as pressões do dia-a-dia ou buscando novas formas de lidar com a constituição física e psíquica do que conhecemos como vida.


Weiner faz um espelho de como chegamos até aqui, consumidos pela necessidade de buscar um espaço no mundo capitalista, afetados pelas drogas, pelo sexo e pela elevação do ser aqui sempre se vendo caindo de um prédio como na já clássica abertura da série, a queda nunca a subida, por mais alto que estivessem na estatura da sociedade, da conquista dos objetivos, seja em ser dono de clientes como Coca-Cola ou Mohawk Airlines. Se ver em um apartamento caro em Manhattan, com uma esposa linda que dança e canta com uma sensual voz francesa, "Zou Bisou Bisou" em uma festa surpresa de aniversário não é e nem significa que tudo está perfeito na busca por novas aquisições e digo nem tanto materiais, mas espirituais talvez numa expressão que tenta chegar próximo dessa ideia de elevação, de se tornar algo que não te imponha ou determine a expressão de felicidade e estatura social. Porque para Don Draper, o nosso herói, dono aqui das agruras, de um passado misterioso e obliquo, o que mais importa passa a ser a necessidade de ser dono de si próprio, e nem tanto de um terno impecável, ganhando milhões na tão sonhada McCann Erickson. O que importa é o ser, em primeiro lugar. Inspirador para um final de série, que ao invés de focar no final feliz óbvio, opta por final feliz para todos nós em nossas futuras buscas diárias por novas ideias para as nossas vidas. E de que a satisfação passa a estar no mundo que temos para ir atrás descobrir.

Os personagens como sentiremos falta. A narrativa, talvez, revolucionária, fez a todos que acompanhavam se debruçar sobre reviravoltas, diálogos tão imensos quanto inigualáveis em muitas coisas que vimos tanto na televisão quanto no cinema. Nos tantos epísodios que houveram, em cada um o peso das falas escritas por Weiner faziam sentido de forma imensa, pois nos deixavam o peso para carregar, da dureza que foi a vida, que é afinal. Como nas melhores obras, nos sentimos afetados por saber que tais personagens não terão novas histórias e que se resta como consolo tenhamos os HBO Go, Netflix e DVDs para consolar. Talvez um post único para cada personagem seria o mais correto, mas aqui é apenas um lamento e um agradecimento a Weiner, e aos atores e outros tantos roteiristas e diretores que apareceram e contribuíram para essa série.

Peggy Olson (Elizabeth Moss), uma personagem tão rica quanto inspiradora. Por ser a mais humana talvez, tanto quanto Don Draper (Jon Hamm), o personagem que cai do prédio e aparece no logo tomando seu whisky. E quantos whiskeys foram bebidos durante esses sete anos? Hamm confessou uma vez que na realidade era chá mate, pudera, afinal foram garrafas e garrafas durante esses anos. Olson, quase faz parte de nós mesmos quando terminamos um episódio que tem sua marca. Sua atitude perante a vida, essa luta por um crescimento profissional, por um papel na sociedade machista, tentando parecer sempre satisfeita quando morre lentamente por dentro, tão nossa, tão humana. Assim como Joan Harris (Christina Hendricks), esse furacão de mulher. Quem foi o homem que nunca se perdeu nas falas e no contexto da cena por causa das curvas indecentes de Hendricks. "A ruiva" não deixava sua beleza inacreditável interferir na sua postura profissional seja na Sterling Cooper, ou na McCann. Devido a isso, conquistou o ódio de muitos que a compravam pela sua aparência somente. Quem sempre a adorou, o sócio original, Roger Sterling (John Slattery), dono da garrafa de vodka, filha problemática e um senso de dever profissional incorrigível, mesmo quando agia por instinto próprio. Sua parceria e confiança mutua com Draper fez dessa série uma das coisas mais legais e divertidas de se assistir. Obviamente, sem deixar de lembrar de Betty Francis, (ou Draper para os mais nostálgicos), (a outra incrível bela January Jones), mãe dos filhos de Draper, que teve um fim de série para compensar toda a propaganda indireta do uso de cigarros. Para finalizar, claro, Pete Campbell (Vincent Kartheiser), ambicioso personagem que por momentos no inicio da série teve desavenças com Draper.

Jon Hamm, meio que se mistura ao personagem. Da mesma forma que James Gandolfini e seu personagem Anthony John Soprano. Ao olhar para o ator, a associação ao personagem vem automaticamente. O seu Don Draper foi uma aula de interpretação, de intensidade e força. Em entrevista a revista Rolling Stone, anos atrás, lembro que o autor da reportagem Josh Eells e Mark Seliger descrevem o quanto a própria vida pessoal do ator é cercado de próprios mistérios e traumas. A vida imitando a arte e vice-versa. O que fica sem duvida de sua entrega a esse personagem que fez o seu nome é um personagem sem duvidas icônico o bastante para ser colocado no rol da história da televisão. Seu nome é apontado como um dos mais promissores de Hollywood, apesar de ter fracassado em sua primeira tentativa, o legal "Million Dollar Man", filme da Disney sobre beisebol e críquete. É óbvio, um personagem que o vista tão bem quanto Don Draper não será tarefa fácil, mas ele é um ator e tanto. Espero que ele sempre esteja visível, quero poder lembrar de Don sempre ao vê-lo.

Don e Peggy.


Jessica Paré e sua Megan fazendo o 'Zou Bisou Bisou', na quinta temporada.

A série terminou, mas sempre poderei revê-la e lembrar de como fiz minhas horas para poder chegar em casa e ligar a HBO para poder ver, seja as segundas as 21h, aos domingos, no HBO Go, no Netflix, no inicio para começar a acompanhar a série. Foram bons momentos da minha vida sem dúvidas, que no futuro me farão lembrar de memorias minhas. Obrigado Weiner! Obrigado Don Draper!


The End.



*Quem viu o ultimo episódio de 'Mad Men' vai entender esse comercial da Coca-Cola, feita pela McCann...




See you Don!

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Sobre o novo Mad Max

*... E por que explodiu minha cabeça


*Clássico dialogo do primeiro Mad Max, de 1979, com Mel Gibson: 
 
Max: I'm scared, Fif. You know why? It's that rat circus out there. I'm beginning to enjoy it.

Fifi: What is this, bonny week?

Max: Look. Any longer out on that road and I'm one of them, you know? A terminal crazy... only I got a bronze badge to say I'm one of the good guys.


"It's that rat circus out there. I'm beginning to enjoy it."

George e seu mais novo pupilo.


Back in 80's. Outro Max ficando louco.

A imperatriz e o seu criador.

Acreditar que o cinema já nos mostrou tudo o que poderia em matéria de criatividade é decorrente da incapacidade de diretores nos mostrarem novas formas narrativas originais de contar história. Pode dar um play em algum blockbuster recente e você verá que as histórias parecem sempre conduzirem para alguma reviravolta que sempre leva aos personagens se revelarem e as cenas de maiores aprofundamento descartadas ou nem ao menos existirem em favor de formulas que todos conhecemos em alguma destruição, desilusão e revelação sobre algum personagem que nos faça mudar as perspectivas das histórias. Existem exceções, apesar do que muitos falam é sempre bom lembrar de um 'A Origem', de Christopher Nolan, ou de 'Birdman', de Alejandro Gonzalez Iñarritu. Com todo respeito a todos os filmes que amo e que possuem outras coisas que merecem serem amados por nós como boa parte dos filmes de super-heróis da Marvel que são realmente muito bons, e que possuem formas incríveis de contarem histórias, nesse momento não consigo amar mais um filme do que 'Mad Max: Estrada da Furia'. Ha algumas horas sai de uma sessão do filme de um shopping. Queria expressar meus sentimentos a essa obra nesse blog pois de outra forma não posso, nem mesmo dizer para amigos que você amou demais esse filme pode ser o bastante. É preciso tentar exprimir em palavras, em letras, em um texto.

O australiano George Miller fez no ano de 1979 seu primeiro sucesso comercial, o primeiro Mad Max, filme que catapultou o ator Mel Gibson ao estrelato. Vieram outros dois filmes, dois sucessos enormes com a participação da cantora Tina Turner no terceiro filme. Mad Max se tornou um personagem cult, popular e mitico. O diretor veio a fazer 'As Bruxas de Eastwick' (1987), um filme com Susan Saradon, O Oleo de Lorenzo (1992) e o sucesso infantil Babe (1998) e a animação Happy Feet (2006) e sua continuação (2011). Nesse meio tempo entre os seus projetos, o diretor já havia feito três roteiros para o que seria uma continuação de seu sucesso inicial, Mad Max. Vinte e cinco anos depois, perdeu o interesse no projeto em 2000. Após dar inicio a pré-produção em 2003, quando anunciou que havia finalizado o roteiro de 'Fury Road' viu diversos empecilhos em seu caminho. As filmagens começaram em 2011. Foram interrompidas devido a problemas climáticos no local onde deram inicio as filmagens, e em 2012 o diretor voltou a filmar agora na Namíbia, mais de 18 meses depois. Outros problemas com grupos de gestão dos locais onde filmavam que acusaram os produtores de danificar o local, fez a produção só voltar a fazer novas refilmagens em 2013. O filme então só agora em 2015 é lançado.

Uma simples critica de 'Fury Road' não cabe por simplesmente não dizer exatamente aquilo tudo o que o filme propõe. Não sou pretensioso por achar que esse texto fará uma resenha brilhante, e mesmo que aqui me dispusesse a escrever seria inevitavelmente afetado pela emoção de ter acabado de assistir e ter achado excelente. Por ser um filme atemporal. Vibrante e extremo. A minha afirmação no titulo desse post pode ser facilmente explicado. Com o uso de tecnologias modernas, entretanto filmando tudo sem truques, com os atores sem firulas no deserto da Namibia, com os tiros e explosões feitos do jeito old-school, aqui o que vemos é uma nova experiência cinematográfica. Essa combinação faz de Mad Max versão 2015 sem a pretensão de ser superior ao original, mas inevitavelmente o é. "É a sensação da câmera baixa. Nossa SUV modificada especialmente para o filme, the Edge, é uma bizarrice, perfeito exemplo combinado do jeito antigo com novas tecnologias. Esse filme tem grandes caminhões monstros e grande, grande veículos arremessando pelo meio do nada. Com a Edge, nos pudemos conseguir a câmera entre todas as coisas, quase dançando bem de perto.", disse o diretor em entrevista a revista Wired. (It’s that low camera feel. Our modified SUV, the Edge, is a freakish, perfect example of combining old-school and new technology. This movie has big monster trucks and big, big vehicles hurtling through the wasteland. With the Edge, we could get a camera in amongst it all, almost dancing it was so close."). 

Tom Hardy proporciona ao seu Max um personagem tão icônico quanto foi um dia Mel Gibson décadas atrás. E a presença de Charlize Theron com seu visual sem cabelos, com a Imperatriz dá a sensação de dor e angustia dos tempos apocalípticos do filme. Nicholas Hoult como o insano Nux consegue a melhor fala do filme, com o visual dos soldados do temido Immortan Joe. "What a lovely day!", exclama ao passar por uma horrenda tempestade de areia.

 


Com um roteiro que trata muito do mundo que estamos vivendo e do temor de um futuro ameaçado pelo aquecimento global, o esgotamento de recursos naturais e a ambição e guerras entre seres humanos, tem muito em Mad Max: Fury Road, de um futuro daqui a 45 anos ou mais potencializado ao extremo. Levado ao maximo, sem nos dar opção de respirar em umas horas que testemunhamos com os nossos olhos.

Belas entrevista feita pelo site Vice com o diretor visionário...




*Clássico dialogo do novo Mad Max: Fury Road, entre a Imperatriz Furiosa (Charlize Theron) e A explendida Angharad (Rosie Huntington-Whiteley).

Imperator Furiosa: How does it feel?

The Splendid Angharad: It hurts.

Imperator Furiosa: Out here, everything hurts. You wanna get through this? Do as I say. Now pick up what you can and run.