sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Historias de 2017. Contos sobre as séries que marcaram o ano.

Hora de ligar a TV.


* A TV brilha e transcende no ano que passou trazendo histórias que abre os nossos olhos para o surreal, o inacreditável, o vibrante e nos engaja de formas como nunca antes em causas atuais.

Last Week with John Oliver é de longe o melhor programa de noticias da televisão. 


Violência contra mulheres. Guerra de dragões no gelo. Aias de vermelho em um futuro distópico. Um buraco aberto libertando monstros em uma cidade americana. Uma outra cidade americana que retorna aos perigos como nunca antes desde a morte de uma moça de nome Laura. O fim do mundo na Austrália. Tantas histórias fizeram de 2017 um daqueles anos que foi dificil acompanhar tudo o que aconteceu na televisão e cada uma delas significou memorias eternizadas em cenas absurdamente bem feitas. Um flashback corre em nossas mentes com as muitas imagens impressas por cores, fotografias, atuações brilhantes, direção, figurino, aliados a roteiros instigantes e profundos.

Os mais brilhantes roteiristas e criadores vieram no ano passado com projetos bem interessantes para a telinha. Paolo Sorrentino (The Young Pope), Jean-Marc Valleé (Big Little Lies), David Lynch (Twin Peaks: The Return), Damon Lindelof (The Leftovers), David Simon (The Deuce), Gus Van Sant (When We Rise) e por ai vai. O nivel técnico das produções audiovisuais televisivas nesse ano foi absurdo. Isso representa uma alteração na percepção até mesmo de atores do primeiro escalão do cinema (Gael Garcia Bernal, Nicole Kidman, Ewan McGregor, etc) que entendem que a TV está mais provocativa e intensamente interessante que o proprio cinema.

Os melhores trabalhos na tela da TV não poderia ficar em somente dez, dada a infinita quantidade de boas produções, por isso segue os quinze melhores. E sem ordem porque todos aqui são o número um, os melhores.





The Young Pope (HBO, no Brasil pela FOX Premium)

Jude Law incorpora o melhor trabalho de sua carreira. Sarcástico, inquieto e impiedoso as vezes. Belardo se torna, após uma intervenção divina, no papa Pio XIII e traz a sua visão nada ortodoxa para uma igreja Catolica em frangalhos. Suas atitudes despertam reações inesperadas nas pessoas. A fotografia, a trilha sonora, a direção. Tudo funciona de forma brilhante. Paolo Sorrentino (vencedor do Oscar por 'A Grande Beleza') é o criador dessa obra-prima.


Big Little Lies (HBO)

No começo com todos os personagens dessa série em salas de interrogação fica evidente que ocorreu um crime. Mas qual seria esse? O diretor e criador da série Jean-Marc Valleé forma uma teia absurda em torno de relacionamentos entre casais e suas amizades, tudo ao redor de uma escola primária. O crime em si se revela somente no último episodio e é chocante. Com atuações fenomenais de Nicole Kidman, Reese Witherspoon, Shailene Woodley e Laura Dern. Imperdivel.


The Good Place (Netflix)

E se você fosse uma péssima pessoa na Terra e mesmo assim por um acaso morresse e fosse para o céu? Bem, o plot dessa comédia do mesmo criador de Parks and Recreation transcorre o tempo onde os quatro individuos que morreram se dão conta que estão na realidade no céu. Será mesmo que estão? Ted Danson reprisa um papel que particularmente me remete muito ao seu antigo papel na série 'Bored to Death' da HBO. Impossivel largar a série. Queremos muito uma Janet ao nosso redor.


Master of None - temporada 2 (Netflix)

Aziz Ansari imcorpora um dos talentos mais notáveis da televisão em 2018. Se a primeira temporada foi ótima, essa segunda vai muito além e forma laços com personagens muito bem criados, em tramas que deixa no ar referencias ao cinema italiano dos idos anos 60, 70. As cenas com o garoto italiano em preto e branco é de levantar do sofá e ovacionar de pé. Bravo.


Legion (FX)

Noah Hawley emplaca duas das melhores séries de 2018 (a outra é a terceira parte da antologia 'Fargo'). Sua mente brilhante se vê diante de um desafio: adaptar a absurda HQ dos X-Men e transformar em uma série que emplacasse. O resultado visto é semelhante ao de tomar um alucinogeno e embarcar na mente de David Haller, o personagem principal. Agil, intrigante, muito belo visualmente. Legion abraça o espirito da HQ dos X-Men de mesmo nome e a criatividade do roteiro de Hawley.

Twin Peaks: THE RETURN (Showtime)

 A morte de Laura Palmer gerou muito barulho nas temporadas passadas, bem passadas lá nos anos 90. Agora, o gênial David Lynch teve uma grande ideia: trazer o criador da série original Mark Frost para ir além daquele material do passado e nos destruir a cabeça com uma trama que explora o surreal e o intangível. Os sons, as cenas, as formas, as cores, o sangue todo, a trilha sonora em um bar ao vivo. Tudo vai além de nossas compreensões e por isso explode as nossas cabeças.


Godless (Netflix)

O roteirista de grandes filmes como Minority Report (2002), Logan (2017), O Nome do Jogo (1995) Scott Frank, cria com a produção de Steven Sordebergh uma minissérie de western que busca referências aonde você puder imaginar. Em personagens cativantes, vamos pouco a pouco caindo dentro de reviravoltas intensas, cenas de ação de parar a respiração e nos conduz a um encantamento por vezes dificil de controlar. Jeff Daniels como o vilão sem braço foi sem duvida o melhor vilão. Temos um medo real por ele.


Sneaky Pete (Amazon Prime Video)

Uma das melhores séries do ano que quase ninguém viu. Produzida, criada e estrelada por Bryan Cranston junto de David Shore, o criador de House, o show ganhará uma segunda temporada pela Amazon e merecidamente. Trambiques, mentiras, traições. Cranston mostra o seu lado mais intenso com uma atuação brilhante, sendo ele apenas um coadjuvante. Giovanni Ribisi aqui é um monstro de ator. Ele é Marius Josipovic, mas se passa por Pete, um amigo seu dos seus tempos de cadeia, conhecendo toda a familia de Pete que não o via a tempo. Genial.


The Deuce (HBO)

Depois que The Wire (2002-2008) mostrou uma Baltimore contaminada por seus vicios e pecados, em meio a temporadas atrás de temporadas que desafiavam o olhar do espectador para observar o mundo ao redor, David Simon e George Pelecanos retorna propondo o mesmo em uma Nova York dos 70 em meio a prostitutas, sexo em cinemas, filmes pornô. James Franco (em dois personagens) e Maggie Gyllenhaal arrasam, e o figurino e ambientação dos anos 70 é de encher os olhos.


The Handmaid's Tale (Hulu)

O mundo cada vez mais sombrio. Mulheres passam a ser subjulgadas e mal tratadas em publico. Até chegarmos a um ponto onde elas ou morrem ou se tornam serventes. As aias são mulheres vestidas de vermelho com um capuz cobrindo os cabelos e que somente servem para a procriação. Na adaptação da obra de Margaret Atwood para a televisão temos a mais delirante e espetacular série do ano. Pela trilha sonora moderna sob cenas aterrotizantes. Elizabeth Moss faz uma personagem que marca a sua carreira. E sem duvidas fica marcado em nossas mentes o poder da liberdade em tempos onde o medo impera.


Patriot (Amazon Prime Video)

Roteirista de cinema, Steve Conrad cria uma série unica a sua propria maneira. Em "Patriot" temos uma comédia dramática que nos abre uma visão leve e bem humorada sobre espionagem, interesses governamentais e muitas boas sacadas. Michael Dorman faz John, um cara que apresenta canções folk cujas letras falam sobre tudo aquilo de bobagem que o seu país faz e que ele tenta ao máximo concertar. Um clima soturno mas uma boa surpresa do ano. Outra série que merecia mais atenção, do que a que foi dada.


American Vandal (Netflix)

Aparentemente temos um 'mockumentary' sobre um criminoso de uma escola dos EUA que desenha diversas imagens de pintos em todos os carros do estacionamento. Quem seria o culpado? Obviamente, o único cara de toda a escola que desenha pintos na lousa todos os dias e importuna professores correquiramente. Bobo, com uma história ridicula mas que se torna uma das melhores séries do ano justamente por ser extremamente divertido.



Baskets - temporada 2 (FX, no Brasil pela FOX Premium)

O que mais me encanta em "Baskets" é o quão tudo é singelo. Seu modo de lidar com problemas corriqueiros e sob personagens bobos e honestos. O ator Louie Anderson como a mamãe Baskets nos enche de alegria. Zach Galifianakis sempre incrivel nessa série. Além da atriz Martha Kelly que faz a personagem Martha. Impossivel não se envolver com toda a história.



The Leftovers - temporada 3 (HBO)

O que o mundo ao redor significa para nós quando tudo está prestes a ter o seu fim? Criada por Damon Lindelof e pelo escritor do livro que deu origem a história Tom Perrotta, a série mergulha em cenas absurdamente espetaculares. Como em um retrato sobre o medo do fim de tudo, Kevin Garvey (Justin Theroux) e Nora Durst (Carrie Coon) vão para a Australia tentar impedir o fim do mundo. Uma obra prima da televisão que se despede na terceira temporada.



Mindhunter (Netflix)

A cabeça de psicopatas dissecada. David Fincher cria uma história baseada no livro que dá nome a série e faz um road movie com dois policiais do FBI indo de cidade a cidade para entrevistar psicopatas e entender as suas mentes, suas motivações e os seus desejos. Os atores são ótimos, o roteiro maravilhoso, onde a mente dos proprios policias lutam para manter suas sanidades intactas.



Claro que teria que fazer menção honrrosa a uma série que não coube aqui nessas quinze escolhas, dentre elas a incrivel 'Fargo' (FX), terceira temporada com Ewan McGregor e Carrie Coon.

Os Stussy tem que morrer. Mais uma sensacional temporada de Fargo, criada por Noah Hawley (FX). 


quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Historias de 2017. Contos sobre os filmes que fizeram o ano.


Logan (dir. James Mangold) não entra na lista porque foram somente dez filmes que selecionei, mas é um filme inesquecivel e merece menção honrrosa na foto do post. 


O ano que se foi deixou um legado de filmes autorais cada vez mais autênticos. Em outros anos a quantidade foi menor, ou pelo menos a impressão deixada fosse essa. O mundo mudou muito desde aquele ano de 2016 onde muitos condenaram a falta de negros e gays entre os indicados ao Oscar. Em 2017, Moonlight, de Barry Jenkins levou a estatueta de melhor filme... Ou quase já que devido a uma gafe homérica, os realizadores do Oscar entregaram os envelopes errados nas mãos de Warren Betty e Faye Dunaway, que desconcertados foram corrigidos pelo diretor de La La Land, filme anunciado pelo o par no palco ao vivo para milhões. Moonlight conta a história de um garoto em três épocas distintas, percorrendo sua história de vida e descobertas sexuais e pessoais.

Esse ano para o cinema pode ser dividido em filmes que contam a história de indivíduos em busca de uma saida de algo que os prende. Seja dentro da mente (Get Out), seja de uma força policial que aflige (Detroit), seja de uma praia em meio a bombardeios nazistas (Dunkirk). O medo percorre as histórias dos melhores filmes do ano. Talvez o medo do presente com um presidente como Donald Trump na Casa Branca ajude a compreender a angústia que se transmite nas telas. Em Okja, filme do sul coreano Bong Joon-ho temos o medo presente nos olhos de uma garota que vê o seu bicho, um gigante porco sendo preso e levado para o abate, onde a dona de grande conglomerado alimentício (interpretado brilhantemente pela atriz Tilda Swinton) deseja fabricar um produto com a carne dos muitos porcos gigantes assim como okja, o animal da garota. E esse medo chega até Asgard onde o Thor dos quadrinhos da Marvel vê o seu planeta invadido e subjugado por uma filha de seu pai e deusa da morte interpretada por Cate Blanchett. 

Se o cinema expressa sentimentos de nossas miseráveis vidas, por meio de histórias sobre vidas que percorrem surreais caminhos e nos leva a atentar para o passado e futuro com os olhos para o presente, significa que o trabalho do diretor e equipe técnica foi feita com esmero. O poder dos filmes é subestimado. Além de um entretenimento que nos leva a percorrer filas para a compra de bilhetes e pipocas, cada tela que se acende abre buracos misteriosos que podem carregar enormes reflexões sobre a nossa existência nessa vida, apaziguar corações que foram machucados ou feridos, dar impulso a realizar sonhos que a vida pode ter os desencorajados. Em 2017, filmes atrás de filmes tocaram pessoas mais fundo dentro delas e as mostrou que o medo não resiste a força que está dentro de cada um dos que se deixaram levar pelas histórias contadas nas telas, seja as do cinema ou as do Netflix.

Aqui vou colocar os filmes que eu vi nesse ano, com muitas ausencias devido a agenda dos filmes cujas estreias nos Estados Unidos deixa de fora o Brasil somente para uma estreia em 2018. Aqui coloco alguns filmes que fizeram a minha cabeça e entra em certo dez melhores do ano. Voilá...

  • Star Wars: The Last Jedi (Os Ultimos Jedi)

Rian Johnson fez bem mais do que mostrar o porque é um diretor que abraça os filmes com o desafio de os tornar algo maior do que a média. O seu Star Wars se torna um filme ousado, que mantém o clima dos antecessores, sem perder a ousadia de mudar toda a história. Carrie Fisher se despede do papel que a eternizou. Um filme memorável e emocionante. 

  • Detroit 

A história que ocorreu em 1967 em um hotel em Detroit em meio a uma rebelião racial que ocorreu por todo a cidade por cinco dias, chocou o mundo. Policiais invadiram o local e fizeram pessoas inocentes em reféns onde por um mal entendido, boa parte dos ocupantes do hotel foram assassinados. As familias desses ocupantes que eram negros nunca viram justiça, já que todos os policiais foram absolvidos. A diretora de Guerra ao Terror, Katheryn Bigelow vai fundo e cria uma obra muito bem filmada, com uma ótima trilha sonora. 

  • Get Out (Corra!)

Vibrante, assustador e dilacerante. A obra prima do estreante Jordan Peele nos pega desprevenidos a todo o momento. Com um humor que se mostra presente na capacidade de nos chocar com a critica social e no preconceito racial, o casal Chris e Rose são tudo aquilo que você não espera que seja, com frames e fotografias que nos traga para dentro de uma história surreal. Melhor filme de 2017, indiscutível. 

  • The Lost City of Z (A Cidade Perdida de Z)

Por dentro da ambição humana, vemos como o desejo de se tornar algo maior do que nós mesmo nos transforma em algo que nunca esperavámos ser. Nesse filme de James Gray somos levados para uma obra que apresenta as muitas épocas em que o explorador Major Percy Fawcett (Charlie Hunnam) viveu em busca de achar sua glória maior em meio a floresta amazônica. Visualmente o filme é um delirio e o roteiro busca uma profundidade de uma epopéia monumental, ao final sendo uma obra muito bem realizada com muitas intenções e dentre elas a maior parte realizada. Esplêndido. 

  • Baby Driver  

Edgar Wright conhece os meandros de um filme pop até a medula. Em 'Baby Driver', o diretor nos entrega uma trilha-sonora matadora, em um filme extremamente bem editado e com atores muito bem em cena. O timing do filme nos deixa sem ar, da mesma maneira como o motorista de nome Baby sabe sair bem das fugas nos assaltos que participa. 

  • Colossal 

Aqui está um filme que hesitei em colocar mas parece improvável deixar de lado uma obra que aparentemente é uma comédia sem nenhum trunfo, quando na realidade deixa em seu humor negro uma história que envolve uma moral bem contada e extremamente engraçada. Anne Hathaway entre uma de suas melhores performances e o diretor Nacho Vigalondo captura bem a mensagem do filme por meio das surreais aparições dos monstros.

  • Dunkirk 

Christopher Nolan mostra um filme que retrata a guerra sem uma mensagem de vencedores e perdedores, e onde não se vê  no horizonte nada além de sobrevivencia ao invés de vitoria. As cenas filmadas na praia deixam atônitos os mais profundos apaixonados por cinema. Em um ambiente cloustrofóbico, a trilha sonora que soa com tiques de um relógio e a determinação de simples individuos em busca de mostrar solidariedade humana torna o filme uma experiência transcedental.


  • The Square 

Um curador de um museu promove uma exposição sobre a indiferença humana entre os individuos de uma sociedade. O que ele não percebe é que a propria arte que ele conhece não retrata aquilo em que ele acredita. Em um misto de situações completamente absurdas vemos de propagandas com mensagens suspeitas a um ator imitando um simio e provocando as mais viscerais reações de uma platéia. O diretor Ruben Ostlund nos arranca uma das mais surreias experiências do ano no cinema.

  • The Discovery 

O que vem depois da morte? Uma pergunta respondida pelo diretor Charlie McDowell em The Discovery, um filme que conta a história de duas pessoas que se encontram acidentalmente e criam laços. Rooney Mara e Jason Segel criam atuações viscerais em um filme com uma boa história. 

  • Blade Runner 2049

Denis Villeneuve embarca em um desafio cinematografico muito maior do que qualquer outro já desafiado por um diretor de cinema depois dele: realizar uma boa continuação do classico filme de Ridley Scott (aqui como produtor) Blade Runner (1982) adaptação para o cinema da obra de Philip K. Dick. E o resultado é um filme tão imenso quanto. Tão forte quanto. Ryan Gosling agora é o policial e Harrison Ford mantem vivo o seu sarcasmo de antes. 2049 exagera na medida e é deslumbrante. Roger Deakins na fotografia tem o mérito todo.


Claro que tem mais filmes e esses aqui não é nem de longe o reflexo dos dez melhores, mas foram os que mais me impactaram e de certa forma foram os meus favoritos no ano (até o momento, já que devido a agenda de lançamentos no Brasil ainda não vi Call Me By Your Name, Darkest Hour, Three Billboards Outside, Ebbing, Missouri, Coco, entre outros).

Devo fazer uma lista dos filmes que mais gostei do Oscar que terá todos esses.