domingo, 5 de fevereiro de 2017

Histórias de 2016. Contos sobre os melhores discos, filmes, séries e histórias de vida.

*Nada vai tirar o mérito de que tivemos um ano com novo disco do Wilco, show(s) do Wilco em São Paulo, Louis CK fazendo a melhor série dos ultimos tempos e um Star Wars tão majestoso.


Alec Baldwin imitando Trump. Os EUA foram a loucura. 


Vou começar a lista que todos os anos faço juntando tudo o que me impressionou e quero ser breve. Não houve um 2016 ruim. Não concordo com esse julgamento feito em todo canto. Separar frustrações e decepções numa caixa de 365 dias nos faz crer que haverá uma outra caixa que vai ser aberta e por ai vai até o virarmos pó de estrelas novamente. É uma forma de ver o mundo em caixas e não numa longa pista de corrida, que no meio do caminho tropeçamos, caimos, liberamos nossas endorfinas e conquistamos muitos podios e ficamos atras as vezes. O que aconteceu ano passado nos faz estar mais preparados para viver e não a aceitar que vivemos para sempre. Pessoas morrem, queridas como David Bowie, Leonard Cohen, Carrie Fisher, Prince, por ai vai. Pessoas elegem e apoiam figuras que nos dão nenhuma inspiração, pelo contrário, lideres que vieram para causar discordia. Pessoas ficam tristes. Eu fiquei muito. No final, isso tudo nos faz despertar do medo e da frustração e necessário para aprendermos a cultivar as nossas esperanças e confiança. Duas frases de dois pensadores do país que mais nos decepcionou em 2016 nos servem de espelho para terminar essa introdução minha do que foi os 365 dias que se passaram. A primeira de um pastor e uma das vozes mais influentes do protestantismo nos Estados Unidos, Henry Ward Beecher. "Our best successes often come after our greatest disappointments." ("Nossos melhores sucessos vêm depois de nossas maiores decepções") e a de Martin Luther King, que disse "We must accept finite disappointment, but never lose infinite hope." ("Nós devemos aceitar a decepção finita, mas nunca perder a nossa esperança infinita").

O que eu lembro dos filmes que eu vi...

The Lobster. De longe uma das obras mais inteligentes e interessantes do ano que se passou.


Apesar de estar de saco cheio de filmes de super-herois, Deadpool e Guerra Civil: Capitão América foi boas surpresas. O primeiro é um dos melhores filmes já feito nessa safra (original, corajoso e nenhum pouco censurado). Os filmes que venceram o Oscar, O Regresso sem duvida virou já um clássico, pela forma como foi filmado e pelos efeitos e a camera do diretor Alejandro Gonzalez Inarritu. Zootopia me chamou muita atenção também, filme de animação com tema de adulto que vai de se aproveitar dos outros a mostrar como não é facil a vida. O novo do Nicolas Winding Refn, "The Neon Demon" é uma das coisas mais vicerais e profundas do ano, que só perde para "Elle", do Paul Verhoeven. Desconstroi todas as nossas boas intenções e formas de lidar com o certo e o errado. Colin Farrell faz a mais brilhante interpretação de sua carreira no genial "The Lobster", do diretor grego Yorgos Lanthimos.

Rogue One, de Gareth Edwards é um filme muito bem feito e que nos enche das melhores sensações que um filme de Star Wars pode proporcionar: emoção, nostalgia e personagens muito bem feitos.


"There's a 97.6 percent chance of failure". K2SO melhor personagem.


O que mais me chamou a atenção sem duvida foi Manchester a Beira Mar. Drama poderoso, bem escrito e capaz de nos tirar do chão quando Casey Affleck e Michelle Williams discutem, depois quando se encontram anos depois. Poderoso e profundo. A Chegada faz algo assim também, mas aos poucos. Dennis Villenueve faz uma obra sobre nos mesmos e nossos conflitos internos, quando uma invasão alienigina parece ser capaz de despertar nossas reações mais profundas. Sing Street, um filme modesto feito pelo grande diretor irlandês John Carney, sobre garotos que formam uma banda parece ser um baita filme, quando termina um filme avassalador. O singelo torna gigantesco. Sem contar "La La Land" que estreou no começo já desse ano, mas é um filme que saiu ano passado e chegou aqui esse ano antes de eu escrever aqui. Ryan Gosling e Emma Stone vão ganhar todos os prêmios (e devem) pela forma unica de despertar o gênero de musicais para uma outra dimensão. Damien Chazelle, o mesmo garoto que dirigiu e escreveu "Whiplash" engata um filme que eleva o seu nome como a mais bela mente criativa de Hollywood.
 
Menções especiais ainda para: Sully, do Clint Eastwood, A 13ª emenda, documentário da Ava DuVernay, Dois Caras Legais, de Shane Black e Slow West, de John McLean que só vi ano passado.



O que eu lembro dos discos que eu ouvi...

Bowie nos deixa com uma obra prima. Blackstar é um adeus ao mundo em forma de música.


Começo pelo disco que abalou o ano. 'Blackstar' seria apenas o novo disco do grande David Bowie, se não acabasse sendo o seu derradeiro e postumo album. Com canções como 'Lazarus', que é uma confissão de sua morte, Bowie nos avisa "Look up here man I am in heaven. I got scars it can be seen." O seu ultimo disco é uma obra prima acidental. Traz a beleza da vida e da morte, em versos que caminham para nos levar para a finitude de toda uma vida e o que nos espera. Com oito musicas, o disco já entra para um dos melhores dos seus discos.

Sem duvida houve outros discos tão impressionantes quanto o de Bowie. Beyoncé realizou um dos seus mais ousados discos. LEMONADE tem o vigor de um discurso de protesto a favor de feminismo e preconceitos raciais. Faixas como DONT LOSE YOURSELF, parceria com Jack White soa como um Led Zeppelin junto de sua voz marcante. FREEDOM talvez a mais poderosa canção. Radiohead voltou com um disco profundo, com letras que norteiam a nossa busca por respostas. 'True Love Waits' assim como outras canções já haviam aparecido em shows, mas aqui no disco 'A Moon Shaped Pool' se torna um hino. Destaque para 'Daydreaming'. O rebelde Kanye West pode ser um completo perdido na vida real, mas nos seus discos ele dá o seu melhor. 'The Life Of Pablo' é uma obra prima cheia de nuances e com canções unicas. 'Ultralight Beam' é um hino gospel que abre o disco majestosamente. 'Famous' e 'Waves' são ótimas canções.

Angel Olsen fez um baita disco. Quem é ela? "My Women" é um instantaneo disco que catapultou a carreira dela. Dizem que os seus shows são ainda melhores. Um dos melhores discos de rock do ano. Em se tratando de rock, o melhor sem duvida é dos Car Seat Headrest, o brilhante "Teens of Denial". O disco é repleto de sons que vão até nove minutos, mas não fica chato. As guitarras e baixos constroem sutilezas, sons etéreos e a capacidade de transcender o sentidos. Wilco retornou com o excelente "Schmilco", trazendo menos a profundidade do ser humano, para tratar de sentimentos que nos remetem a mémorias de infancia, primeiros amores, decepções, vitorias.

Os ingleses do The 1975, e o seu "I Like It When You Sleep, for You Are So Beautiful Yet So Unaware of It" alardeado como melhor disco de 2016 pela NME é um dos belos discos do ano, com canções muito boas. A banda Fat White Family trouxe o arrebatador "Songs For Our Mothers" com a já inesquecivel "Whistest Boy on the Beach". Os The Last Shadow Puppets fizeram um disco incrivel, o 'Everything You Come to Expect' e o EP fantastico com direito a cover de Leonard Cohen, 'The Dream Synopsis". Ao falar de Leonard Cohen, esse foi outro grande nome da música a nos deixar com um recente disco. "You Want It Darker" fecha uma discografia inigualavel de canções que já ficaram para sempre guardadas em nossas mentes.

Parquet Courts vai fundo no novo disco num tom mais pop que os experimentais ultimos discos. "Humam Performance" dialoga com a vida ordinaria do dia a dia, aos molde de Talking Heads, cria hinos capazes de nos levar a compreender as nossas vidas através do espelho. Um dos maiores retornos desse ano foi dos rappers do A Trible Called Quest. Com o discaço "We Got From Here... Thank You 4 Your Service" eles foram além do comum mais uma vez e entregam canções poderosas para esses tempos sombrios que surgem.

Fonte: Scream Yell - Show do ano: Wilco no Auditorio Ibirapuera.


Menções especiais para: Iggy Pop e o seu "Post Pop Depression", Blood Orange trazendo o lindo "Freetown Sound", PJ Harvey e o seu disco de protesto "The Hope Six Demolition Project", Kings Of Leon e o pop interessante "WALLS", o retorno de Richard Ashcroft com o belo "These People", Pixies trazendo o som poderoso em "Head Carrier", Band Of Horses e o bem divertido "Why Are You OK" e o brilhante novo album do Jimmy Eat World, "Integrity Blues".


O que eu lembro das séries de TV que eu vi...


As crianças e seu RPG. O mundo que saiu do jogo e virou realidade. 'Stranger Things' marca a cultura pop do ano.


A "eleven" ou simplesmente "él" deixou as nossas cabeças cheias de questões mal resolvidas. A série 'Strange Things' foi um dos maiores acontecimentos na cultura pop no ano que se passou. Graças aos irmãos Matt e Rosss Duffer e do produtor e diretor Shawn Levy, uma história saida dos anos 80 com direito a referencias da época (da trilha sonora as citações de filmes), três garotos mais a misteriosa "eleven" saem em busca de pistas que levem ao paradeiro do amigo deles que desapareceu por razões misteriosas.

O ano que se passou mostra sem duvida que estamos na era de ouro da TV, com produções criativas e com um peso maior que o cinema, como palco para as grandes obras audiovisual. O maior exemplo disso são séries como Atlanta, criada pelo músico, ator, futuro Lando Calrissian Donald Glover, que mostra um rapper, um amigo e seu primo em dialogos existenciais em busca de sucesso em meio a dura realidade que vivem. A profundidade só é vista de longe, nas cenas, dialogos. BoJack Horseman, desenho do Netflix e This Is Us seguem pelo mesmo caminho.

Os gigantes da transmissão por streaming dominaram mais uma vez o ano. Netflix, Amazon Prime e Hulu (ainda não presente no Brasil), mostram que as gigante tem de competir o máximo que podem. A HBO, Fox, Showtime, Starz, entre outras mostram estarem trabalhando bem o suficiente para competirem.

O mega estrondo Game Of Thrones foi a grande série da HBO, que agora deixa mais duas temporadas antes do final da série para sempre. O final da ultima temporada mostra que as coisas estão chegando a um final incerto. Os ecos de poder em mãos erradas ao final lembra bem o que os proprios norte-americanos estão vivendo. A rainha dos dragões agora segue para a maior batalha de todas pelo trono. Aonde isso vai nos levar?

Em paralelo, a HBO já deixou as cartas expostas para a sucessão de GoT com o western futuristico Westworld. A série de Jonathan Nolan, JJ Abrams e Lisa Joy tem um roteiro absurdo, atuações acima da média. A trama nos coloca dentro de uma métafora sobre a nossa vida humana em paralelo a de um mero robô. A trilha sonora com Radiohead, The Rolling Stones no piano é um dos pontos alto. O compositor da trilha é o mesmo de GoT, Ramin Djawadi. Outros destaques execelentes da HBO foi Veep, com uma surpresa no final da temporada. Julia Louis-Dreyfuss continua acima da média; The Night Of, trazendo debates raciais em meio a um crime sem solução. A genial Silicon Valley, na sua melhor temporada até aqui. Girls na penultima temporada. A sensacional série 'Vinyl' com Martin Scorsese, Mick Jagger e Terrence Winter não sobreviveu a uma segunda temporada, mas deixou uma incrivel experiencia visual, auditiva vibrante. O ator Bobby Cannavale está absurdo como o dono de uma gravadora em meio a efervecente Nova York dos anos 70.

Claire Foy estonteante.


A Netflix teve o seu ponto alto, além da série da "eleven", com a história da rainha Elizabeth no começo de seu reino como rainha. 'The Crown' escrita por Peter Morgan expõe os dramas vividos pela ainda jovem rainha (vivida pela atriz absurda de boa Claire Foy) em busca de dialogos com o parlamento, seus problemas em familia, primeiro com sua irmã e posteriormente com seu marido. Um requinte em fotografia, trilha-sonora, edição, figurino, cenários estonteantes. É impossivel estar indiferente a essa série.

Outra atração da plataforma de streaming foi a nova temporada de Black Mirror com um primeiro episodio já classico, sobre os vicios na exposição causada pelas redes sociais. Destaque ainda para Love, escrita por Judd Apatow, Master Of None, escrita e estrelada pelo ator Aziz Ansari. The OA, produzida pela produtora de Brad Pitt.

Louie é uma série incrivel do gênio do stand up Louie CK, mas se podemos dizer que ele esteve em um projeto que beira a uma obra prima é a série 'Baskets' da FX. Com Zach Galifianakis no papel principal se dividindo em dois papéis hilários, ainda não chega perto do quão é hilário sua mãe na série. O ator Louis Anderson faz Christine Baskets, uma dona de casa gorda a ponto de entrar em coma por causa de uma diabetes contraida pela dieta comum a todo norte-americana (baseada em fast-food e comidas cheias de calorias). Outro destaque é a Martha (interpretada por Martha Kelly). Chip Baskets (Zach) é um palhaço que estuda como ser palhaço na França. Lá ele se apaixona por uma francesa ambiciosa. O seu destino acaba sendo a de um drama sem fim, mas no fundo de tanta coisa ruim, os roteiristas aqui extraem o melhor da comédia no ano.


Louis CK atrás das camaras e Zack Galifianakis. Geniais em 'Baskets'

Menções especiais para: Mozart in the Jungle, da Amazon Prime, com Gabriel Garcia Bernal; Halt and Catch Fire da AMC, com uma terceira temporada boa; Red Oaks, da Amazon Prime, produzida por Steven Soderberg, a assustadora 11.22.63, com James Franco e produzida por JJ Abrams junto com Stephen King, baseado em sua obra; Animals, desenho da HBO sobre pombos, gatos, cães; Catastrophe, brilhante série inglesa com os atores Rob Delaney e Sharon Horgan como um casal e um bebê em dialogos cheios de referencias e situações hilárias; Fleabag, outra série inglesa com a revelação Phoebe Waller-Bridge no papel de uma mulher na casa dos trinta superando tragédias pessoais; High Maintenance, da HBO baseada numa série de curtas exibidas pela internet sobre um sujeito vendendo maconha; Outcast, da Fox, criado por Robert Kirkman, o mesmo de The Walking Dead. Creppy as hell; a segunda temporada de Mr. Robot, com uma trama não tão interessante quanto a primeira, mas vele a pena dar continuar vendo; The Night Manager, série incrivel com Tom Hiddleston e Hugh Laurie, da BBC com a AMC; The Get Down, uma grande surpresa vinda do diretor Baz Luhrman, australiano diretor de Moulin Rouge, O Grande Gatsby, que cria uma história brilhante sobre o hip hop em meio a um carrossel de musicas, danças e improvisos de hip hop; Ash Vs Evid Dead, Blunt Talk, Insecure, You're the Worst, Man Seeking Woman fecham a lista.

E claro ainda tivemos o futebol brasileiro...

Fonte R7 - É campeão, rs