segunda-feira, 28 de março de 2016

Como salvar os super-heróis?

*Uma reflexão sobre o momento cinematográfico em que vivemos.



Image via Empire


O cinema, como arte barata feita para o proletário se entreter - o que nisso não há nada de ruim e sim de bom já que arte muito conceitual e seletiva é chata e esquecível - vem trazendo nos filmes de super heróis um nicho de centenas de produções para encher salas multiplex de shoppings. Se o passado do começo do século passado era dominado por faroestes/filmes bíblicos, comédias pastelão e romances épicos, o começo desse século só tem quadrinhos.

O problema disso é que os heróis não cabem mais na fantasia e são demasiadamente realísticos. Essa afirmação tem seu lado verdade, mas não sobrevive a ideia de que não vivemos no mundo de fantasia dos EUA na Guerra Fria, onde o outro lado socialista ditava o mal. A mitologia dos heróis que vemos nas telas ainda baseados naquele cenário, promove em sua versão atual no cinema essa aproximação com a realidade que até é positivo.

O novo filme 'Batman Vs Superman - A Origem da Justiça' trata-se de uma reflexão acerca sobre heróis no cinema hoje em dia, ou pelo menos soou para a minha pessoa. O confronto entre dois seres anormais em uma realidade onde a humanidade dá espaço para grandes corporações com poderes ilimitados, como a LexCorp, não é verossímil. O bom do filme é justamente pensar nos super-heróis como responsáveis por defender a humanidade do mal, seja esse qual for, nos dando o conforto de que em meio a Estado Islâmico e terroristas, há seres com poderes capazes de derrotar essas ameaças. A própria humanidade, como fica explicito no filme, se torna a maior ameaça. E nesse responsável, a figura de todos os que sentiam repulsão pelo ser alienígena Super Humano.

Passado o frenesi, 'BvS' é um filme inacabado, justamente por não propor um enredo que funcione para lermos o filme em um formato. O filme todo não ganha um formato. O que Zack Snyder faz é entuchar em um só filme o que a Marvel levou anos de filmes para fazer: apresentar os super-herois de forma compreensível. Buracos no roteiro, soluções risíveis para dilemas entre os personagens, um começo de filme que poderia ser facilmente cortado do filme. No final, desejamos ter visto mais de uma só história que fizesse sentido, uma em que de preferencia colocasse um protagonismo em um embate prometido e que não se concretiza. Qual o sentido desse filme?

O que importa é achar que esses super humanos podem existir. No caminho, pode haver exageros, desde que não nos soe forçado demais, caricaturístico demais. Os filmes do Batman, dirigido pelo mestre dos exageros Tim Burton foi um retrato dos exageros dos anos 90. Ainda soava plausível crer no surreal no que se tratava de homens morcegos. Hoje, só pode soar antiquado e sem graça. As versões do diretor Christopher Nolan ensinou para a critica e publico que lugar de super heróis é no mundo real sombrio e cruel.




Na visão da Marvel ainda podemos sonhar, já que seus personagens são atemporais (ou pelo menos, muitos deles), tais como Homem Aranha e Hulk. O que não deixa de fora a profundidade de temas atuais como vistos nos recentes Vingadores e Capitão América. Ainda assim, as histórias parecem soar tudo o mesmo saco de tramas. Os filmes do Thor são um saco. Assim como os novos Homem Aranha. Já não há mais espaço para historias tradicionais de super heróis. É preciso radicalizar e mostrar algo interessante. Projetos como Deadpool são um frescor ao marasmo de sacos cheios de uma platéia sem paciência para esse gênero monótono.

A salvação para os super-heróis é não ser super-heróis. Ser, no lugar de messias da humanidade, figuras apaixonantes por construir o fantástico em cima de fracassados. Como nós.

As séries da Marvel no Netflix parece seguir o caminho certo. Essa é uma época em que o protagonista de filmes assim mora em lugares atípicos, tais como o herói da série Mr. Robot. Pode ser qualquer um, não precisa ser rico ou ter super poderes.


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