terça-feira, 25 de junho de 2013

Lambida: The National - Trouble Will Find Me

Matt Berninger e trupe prontos para mais uma dose de dores e canções majestosas.
Em estúdio para os últimos ajustes do seu novo álbum, "Trouble Will Find Me"

Estamos em 2010. A banda incrível de Cincinatti, Ohio, The National acaba de lançar o quinto disco "High Violet", que daria novos rumos e uma extensão daquilo construido nos ultimos quatro lançados pela banda até então. Os dois primeiros foram ignorados pelo publico que ainda não havia reconhecido o grande talento da banda. Nada demais. Os álbuns "The National" (2001) e "Sad Songs For Dirty Lovers" (2003), apesar de excelentes ainda careciam de hits que batessem a porta do publico. Foram com os dois seguintes, que chamaram a atenção do publico independente e atenção da critica. O terceiro album, "Alligator" (2005), com a presença de um som tão cheio de nuances e guitarras marcantes, e de letras que aliado a isso ainda trazia algo de novo a música. Sem falsos testamentos, quem ouvia as letras de canções como "Abel" e "Secret Meaning", conseguiam entender bem a razão da banda ser tão incrivel. O terceiro album ainda trazia a deliciosa "Karen", com letras que expõe o lider da banda Matt Berninger numa declaração de amor a sua esposa. "Lit Up" e "Baby, I'll be fine" completa o disco, que fecha com "Mr. November", um som que consegue selar bem o espirito da banda: Canções melancolicas, que ainda trazem ali algum fio de esperança.

A banda que é formada por Berninger nos vocais, ainda traz os gêmeos Aaron (guitarrista) e Bryce Dessner (guitarrista e tecladista), e os irmãos Scott (baixista) e Bryan Devendorf (baterista) se tornou a banda do momento com a chegada do redentor, Boxer (2007) que com faixas como "Mistaken for Strangers" e "Fake Empire" alcançaram o topo do sucesso, tendo inclusive a ultima faixa sido usada pelo presidente americano Barack Obama, em sua campanha, numa retribuição ao gesto que a banda teve ao apoia-lo, distribuindo camisetas estampando o titulo da faixa de "Alligator", ("Mr. November", devido ao mês das eleições por lá). E isso só demonstra o quanto eles foram se aperfeiçoando com os discos anteriores. Agora, eles proprios se tornaram melhores e com um som mais apurado, ainda que pessoalmente ainda prefira "Alligator", muito por uma questão de achar as canções que formam o terceiro disco mais coeso e com canções que considero as melhores que já haviam feito. Não desmerecendo "Boxer", que um outro disco sensacional, com lindas e emocionantes faixas, com destaque meu para "Slow Show", "Apartment Story" e "Squalor Victoria".

"Estamos ficando melhores com o tempo? Acho que sim. No inicio, não tinhamos muita noção do que queríamos. Esse processo lento nos fez entender como seria facil desaparecer se não fizessemos discos realmente bons. Seja ótimo ou desapareça. É assim que funciona.", diz Matt Berninger em entrevista por telefone ao jornal Folha de São Paulo (5/5/2010) no lançamento do quinto disco, "High Violet". Esse quinto disco teve ali um pouco de tudo. Vou confessar, foi a minha porta de entrada ao quinteto, que já tinha ouvido falar na época devido a repercussão do apoio ao democrata Obama. Quando pus o disco para rolar, logo vi que "Terrible Love" não seria a unica música a me arrebatar. Viriam mais e mais. O disco inteiro, de cabo a rabo é um emocionante viagem ao mais interior do ser humano. Algo que não conseguimos expressar facilmente. Dores, sofrimento e abandono. Tudo isso sem volta aparente, como deixa bem clara as letras profundas. "I never thought about love. When I thought about home. I still owe money to the money to the money I owe. The floors are falling out from everybody I know. I'm on a bloodbuzz", como canta Berninger na linda Bloodbuzz Ohio, uma canção sobre lugares que já não são mais os mesmos, nem as pessoas ali, nem nós mesmos. Apesar do sofrimento, que é a vida, vemos nos arranjos que trazem o disco, nas batidas que partem das baterias e das guitarras ferozes e desesperadas um sopro de esperança, como se nada estivesse perdido. Marca registrada da banda, que agora em "High Violet" parece elevada ao máximo. Não tem como o album não chamar a atenção de quem ouve. Beira a uma obra-prima. As dramaticas "Sorrow", "Anyone's Ghost" e "Little Faith" se misturam com as melodias pop rock dilacerantes "Lemomworld", "England" e "Runaway". O album foi ainda eleito em 2011, como um daqueles "1001 discos que você deve ouvir antes de morrer". E não duvide disso.


Agora em 2013, uma das minhas bandas favoritas volta com o disco "Trouble Will Find Me". O sexto nessa trajetoria. O poeta e dândi Matt Berninger, conhecido também por sua incondicional mania de quebrar protocolos em shows de descer do palco e se perder na galera, agora usa oculos e anda afim de fazer um rock mais rápido, sem perder aquela composição extremamente dolorosa de suas canções. "This Is The Last Time" traz aquele clima tão caracteristico que é bem conhecido, instrumentos afiados soando sempre se perdendo em meio a desilusões. "Jenny, I am in trouble. Can't get these thoughts out of me. Jenny, I'm seeing double. I know this changes everything.", sussurra um Berninger que beira ao conformismo.

Senti como se aqui não fosse a intenção da banda fazer algo mais bem feito que o disco anterior, ou fazer uma ponte entre eles. Em vão, de toda sorte, já que "High Violet", como já citei, é um achado. E "Trouble..." tem suas proprias dadivas. Uma delas, e talvez a maior delas é ser o mesmo som de sempre, com as mesmas letras dilacerantes de sempre, com algo de original. Talvez eles estejam mais cru e como o titulo do album proprio diz, os problemas irão achar para onde que ele vá, ou nós no caso ao ouvir. A faixa "Demons" é uma das mais interessantes. As batidas fazem dela um hino, ou quase, da fraqueza humana. Como já disse uma vez o colunista da Folha, Alvaro Pereira Junior, The National é uma banda de rock para adultos. Agora talvez mais do que nunca. A composição de "Demons", incrivel composição feita por Berninger dá uma amostra dessa falta de perspectiva diante dos problemas que nos cercam: "Can I stay here? I can sleep. On the floor. Paint the blood and hang the palms. On the door. Do not think I'm going places anymore. Wanna see the sun come up above New York. Oh, everyday I start so great. Then the sunlight dims. Less I've learned". De partir o coração, não?

Talvez, o que torna esse album tão incrivel é a mesma coesão de todas as canções, como vim a citar aqui, ao me referir as canções todas do disco se somam, e não são partes expostas e individuais. Ouvir o disco inteiro tem uma diferença, do que ouvir faixas distintas. Como nunca, eles aqui são capazes de te fazer sair de coração partido, com tanta beleza e de um som tão singelo que se sobrepõe ao que eles fizeram até aqui, em muitos momentos, mesmo aqui não tendo sido a intenção da banda. Um ponto de positivo aqui que faz a diferença sempre é eles serem capazes de ao não se deslumbrarem com a criatividade dos discos anteriores continuarem a fazer excelentes discos. "I Should Live in Salt", "Fireproof", "Pink Habbit" e "Slipped" são achados. Assim como a linda "I Need My Girl", que fala de um amor por uma garota que existe? Aonde ela se encontra nos momentos mais intensos de solidão do nosso vocalista de Ohio. Porem ainda sou apaixonado pela magnifica faixa do album que pode ser considerada uma das melhores da banda. Falo de "Don't Swallow the Cap". Sente só: "I have only two emotions. Careful fear and dead devotion
I can't get the balance right. Throw my marbles in the fight. I see all the ones I wept for. All the things I had it in for. I won't cry until I hear. Cause I was not supposed to be here." Sempre percebo nessa faixa, nessas sacadas tão geniais quanto qualquer faixa do The Smiths, Bob Dylan e outros tantos. Berninger é o cara. Acha que é pouco? Outras duas faixas parecem roubar o disco. "Graceless", e um processo de redescobrimento e auto-conhecimento em meio a dores passadas. "I'm trying, but I've gone. Through the glass again. Just come and find me. God loves everybody, don't remind me. I took the medicine and I went missing. Just let me hear your voice, just let me listen" e a faixa "Sea Of Love", evoca o personagem da Biblia, Jó, no seu refrão para mostrar que o amor não se mostra quando mais precisamos. "Hey Jo sorry I hurt you, but they say love is a virtue don't they?" E ainda nos põe numa sinuca de bico: De que adianta ser tão sábios e admirados, se no fim somos feitos da mesma dor. Tenso, não? Porém é ai que mora a poesia humana e catártica deles. "I see you rushing now. What did Harvard teach you?" Tem como passar despercebido de uma banda tão fantástica como o The National?

Matt Berninger faz o melhor disco do ano até aqui e nos mostra que até onde os problemas podem nos achar. E não há como escapar. Se serve de consolo, ele acabou fazendo as melhores músicas para passar por momentos de duvidas sobre nossa capacidade de continuar acreditando. A esperança no fim prevalesse sempre nas brilhantes composições desse rapaz de 42 anos de idade. Um disco que vale a pena experimentar calmamente e de uma vez. Magnifico.

 



Gosto: Excelente.

Ao vivo no festival de Bonnaroo desse ano...

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