domingo, 11 de agosto de 2013

O enigma de Suede: A banda mais espetacular dos anos 90, lança o melhor álbum de 2013?

O fenômeno Brett Anderson com seu visual nos áureos tempos dos anos 90: O surgimento do britpop.
Versão 2013. Cabelo curto, sem o visual glam-gótico dos anos 90. Melhor assim.

Poucas bandas definem tão bem o espirito do rock inglês nos anos 90 quanto o Suede, e os motivos passam por diversos momentos tão unicos que os tornam singular na história da música, seja pela promessa que se tornaram naqueles idálicos começo da década do Grunge no cenário inglês. Mesmo com o passar do tempo e com a fama adquirida com os diversos singles e albuns nos topos das mais ouvidas, o sucesso não foi capaz de unir a banda que passou por diversos problemas de união entre os membros, tendo seu apice desde o lançamento e gravação do segundo album, "Dog Man Star" de 1994, culminando no rompimento com seu guitarrista, Bernard Butler, até o longo tempo em que ficaram separados desde o fracasso do ultimo disco até então, lançado em 2002, "A New Morning". O que parece uma série de aventuras e desventuras, pode ser revestida com o brilho de uma banda que promoveu uma revolução e pôs nos trilhos uma nova injeção e vigor para o rock britanico. Foram os precursores do chamado Britpop, que traria ainda Oasis e Blur como futuros expoentes e lideres das massas, assim como outras bandas da época como Ash, Pulp e The Divine Comedy. Só que o passado da banda não se encerrou ainda. Muito pelo contrário, eles se mostraram capazes de dizer que mal chegaram a fazer barulho.

A banda teve seu surgimento em 1989, em Londres, no calor dos corredores da University College London, onde Brett Anderson ao lado de sua companheira Justine Frischmann resolveram formar uma banda de rock com a adição de seu amigo de infância Mat Osman. Tocavam covers de The Beatles, Smiths e David Bowie. Precisavam de um guitarrista, e então na edição de 28 de Outubro de 1989 do seminário de música NME, publicaram um aviso procurando por um. E encontraram um garoto de dezenove anos, Bernard Butler, que viria a ser membro da banda nos seus grandes momentos durante a década que estava prestes a começar. O aviso continha o seguinte:

"Young guitar player needed by London based band. Smiths, Commotions, Bowie, PSB's. No Musos. Some things are more important than ability. Call Brett."

Na vaga de baterista ainda em aberto, nos primeiros shows e gravações eram feitas por uma máquina. Com o tempo, publicaram um aviso a procura de um. A surpresa foi ninguém menos do que o lendário baterista dos Smiths, Mike Joyce, pedir para se juntar a banda. Em partes, isso já dá uma ideia da aposta que a banda era naqueles tempos. O mais incrível é que após duas músicas, por discordar de certos aspectos, ele abandonou o posto que logo seria preenchida Simon Gilbert.

Com a saída de Justine (Que logo formaria a banda Elastica) e o rompimento de seu relacionamento com Brett (Que logo o trocaria pelo vocalista do Blur, Damon Albarn), o grupo passaria por alguns ajustes. Capazes de dar voz a um novo estilo musical, que mesclaria um glam rock, com batidas sonoras pop que transformaria a banda num icone de uma geração e Brett seu midas. Em 1992, foram considerados como "A Melhor Banda do Reino Unido". O primeiro album, Suede (1993) foi aclamado pela critica e se tornou em pouco tempo o disco de estréia mais vendido em quase 10 anos. O disco venceu o Mercury Music Prize, respeitado prêmio britânico. Em seguida, o segundo disco, Dog Man Star (1994) apesar dos contratempos, foi um sucesso entre critica e publico, considerado por muitos um dos melhores da banda. Com hits como "The Wild Ones", "New Generation" e "We Are The Pigs". O terceiro talvez tenha sido o álbum que os colocaria no mapa. "Coming Up" (1996) trazia as clássicas "Trash", "Filmstar", "Lazy" e "Beautiful Ones" e logo se tornaria o disco mais vendido daquele ano. É o primeiro desde o rompimento com o guitarrista Bernard Butler. Entraria Richard Oakes. Foi o momento mais grandioso da banda, se não fosse o vicio de Brett em crack e heroina que tornou os proximos passos relativamente irregulares. O quarto disco, "Head Music" (1999), introduziria um som mais eletronico nas canções, se modelando ao que vinha sendo produzido na época desde U2, INXS, Blur, entre outros. Apesar do vicio de Brett, o album alcançou o numero 1 na lista dos albuns mais vendidos. A recepção foi mais amena, tanto da critica quanto dos singles por parte do publico, comparando com outros lançamentos. O que culminaria com a falta de perspectiva do album seguinte lançado em 2002, "A New Morning" foi um fiasco, vendeu mal e boa parte da critica não aceitou as mudanças promovidas pela banda. Pessoalmente não engoli muito, achei meio fraco. Hits como "Positivity" e "Obsessions" não trazia nada inovador.

Os garotos de Londres. O peso da idade.


Após muitas especulações, Suede volta a se apresentar em 2010 e onze anos depois lançaram um novo album, "Bloodsports". Em 2013, em meio a novos disco de David Bowie, My Bloody Valentine e Johnny Marr, o retorno da banda de Londres foi a que mais pode ser considerada como um retorno triunfal. O vigor nas apresentações e o que é "Bloodsports", uma explosão de canções de partir corações e hinos tão bons quantos os do disco homônimo de estréia fazem os fãs de 30 e 40 anos ensandecerem. Para quem ouve a uns dois anos, igual a mim, tudo é muito novo e as referencias a aqueles tempos de "Animal Nitrate" me faz viajar, não sei se na exata medida com a qual muitos deles viajam/piram, mas fico maravilhado com o poder das letras dessa nova empreitada da banda de mais de 20 anos de estrada.

"Bloodsports" é o surgimento de um Suede intenso e revigorante. Um impulso de grande sonoridade. Algo que traz uma banda com raizes naquilo de melhor que eles produziram nos seus primeiros discos, como no soturno "Dog Man Star" e traz toda a inspiração de quem ainda não havia mostrado as caras. Letras que falam de sentimentos como desilusões, medos e inquietudes de um grupo de marmanjos com mais de 40 anos que só agora percebe a dor da vida, a mesma que ainda não se cansa de mostrar sua amarga face. "Barriers" abre o album com um soco de riffs delirantes que falam de frustrações e amores perdidos. "Aniseed kisses and lipstick traces. Lemonade sipped in Belgian rooms. Couldn't replace the graceful notions. That clung to me when I clung to you". A faixa seguinte, "Snowblind" é outra faixa linda que traz toda a energia da banda. Quando Brett parece implorar. "You were frozen by the moment. Thing is what can we do. When I'm frozen by the moment too. All the statues and the x can't. Hold a candle to you. When you're frozen by the moment too". O estonteante hit "It Starts And Ends With You", tem os arranjos e composição de um puta hit dos anos 90 que naqueles tempos me dou a presunção de achar que essa música seria uma das maiores daquela década. Tem riffs que percorrem o ar e letras lindonas."Like a cause without a martyr. Like an effigy of balsam. Like a hairline crack in a radiator. Leaking life. I shout out but it just spins faster. I crawl up but my knees are water. I cling on by my nails to the sweet disaster" E alcança o refrão com tudo. Sem ar? "And then I fall to the floor. Like my strings are cut. Pinch myself but I don't wake up. Spit in the wind cause too much is not enough. It starts and ends with you." Sem palavras.

DOIS TEMPOS...

No elevador.
Num parque, oras.

O legal nesse disco é que faixa-por-faixa descobre-se anseios, dúvidas, obsessão, ego e insegurança se cruzando e formando um arranjo de sons que deixa qualquer fã expoente daquela geração boquiaberto. "Sabotage" é uma romântica faixa com tons épicos que fala sobre a solidão. "Alone in the climate of her greed. Her love is the shape of mother. Her love is sabotage." E termina: "I smile as the rope cuts through me. So cold in this London summer." A faixa mais bonita talvez do album, "For The Strangers" tem uma letra dilacerante: "Lips like semaphore to my heart. We slither and slide and slip. Stings like aerosol in my eyes. And nothing compares to this." Até em seguida aparecer o poderoso single "Hit Me", que já logo atira batidas deliciosas numa canção enfeitadas com um belo arranjo sonoro. "I'm not as strong as I pretend to be. You feel the scratches and scars. You feel the parts of me we call ours. But drop me once. And I will fall to bits. Come on and hit me. With your majesty. Come on and hit me. With all your mystery"

A faixa seguinte "Sometimes I Fell I'll Float Away", tocaria bem numa rádio pela madrugada. Tem leves toques de poesia. "All the colours in the rainbow don't compare. With one look in your impossible eyes". "Always" e "What Are You Not Telling Me?" são outras belas canções. E o disco fecha com a voz de Brett ecoando sozinha nos sons intimistas de "Faultlines". "Is it birdsong or is it just the car alarms. Making me feel so young and savage like the dawn?" Esse trecho da música pode ser vista saido da voz de Anderson como uma confissão de que a banda nunca se sentiu tão jovem e ousada como antes.

Um momento para perceber o quanto revigorante o Suede parece estar nesse momento. Com poderosas canções e sentimentos tão cristalinos nessa obra, nos faz acreditar que o britpop nunca esteve tão vivo. Pelo menos da parte deles, que nunca estiveram tão estonteantes, e as músicas com temas que ainda trazem para o presente sentimentos humanos de uma banda que apesar de seus vicios e problemas nos mostra que continuam parados no tempo. Em 1994. Fazendo o melhor de suas vidas.

O comportado Brett Anderson. Outros tempos.
Brett no meio da galera.

Obs: A Pitchfork lembrou bem, que o lançamento de Bloodsports de deu no mesmo mês do novo lançamento de David Bowie, idolo eterno de Brett que aqui nessa capa antiga da NME de 1993 aparece juntos. Creio que no seu começo de carreira, o líder do Suede jamais pensaria que estaria ao lado de seu maior idolo. E a vida, mostra que... ela é engraçada.


Outra observação: Sempre achei engraçada essa mania que nos EUA, eles chamam a banda de The London Suede. Ianques...

SUEDE no TUNEL DO TEMPO>>>>>>>>>




Um dia Brett Anderson tocava cover de Smiths. Outro dia ele troca umas ideias com o Morrissey. Vida.




Mais uma observação. Não poderia deixar de citar o causo que ocorreu em 2012, com a vinda do Suede no Brasil para o festival Planeta Terra. Enfim, o que ocorreu foi o seguinte. Uma série de eventos inacreditáveis e de proporções de vergonhas alheias nos trazem a tona a participação da banda no programa Altas Horas, do Serginho Groissman. Segue os dois textos do meu blog predileto, Popload, do Lucio Ribeiro que conta como ninguém o que ocorreu naquela madrugada de sábado. haha

Link 1
Link 2

E aqui um vídeo da aparição no programa: Link Animal Nitrate-Altas Horas-Suede




Aqui algumas faixas de Bloodsports:



E o single "Hit Me"...

Nenhum comentário:

Postar um comentário