segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

As melhores coisas de 2018.

*Ninguém solta a mão de ninguém. A melhor atitude é se preparar para a luta.


Esse foi o ano de agir e se posicionar politicamente. Madonna no ELE NÃO.


Esse foi um ano de muitas desilusões e desgostos. Foi um ano de abaixar a cabeça e aceitar certas decisões de cima para baixo mas acima de tudo com o pensamento de levantar com força daqui para frente e lutar para ser ouvido e se fazer ouvir. A melhor coisa desse ano foi o movimento ELE NÃO. Eu compreendo que de fato já era tarde demais, mas o som da contestação mostra a todos nós, pessoas de bem, que existe sim um sinal de não aceitação ao neofascismo encabeçado pelo capitão, deputado federal por 27 anos, politico nanico que ganhou estatura de outsider com discursos racistas, homofobicos, misogino e tudo o que for possivel imaginar de ruim. Ele é o novo presidente do Brasil e representa a imagem do país, que já era debilitada e agora vai caducar de vez. Entretanto os movimentos democráticos que se formam em torno desse novo governo é a melhor coisa de 2018. A democracia não é o melhor dos governos, mas é o melhor que dispomos para construir igualdade e liberdade. A imprensa deve ser enaltecida. Assinem jornais e revistas que se posicionarem a favor da liberdade de expressão e contra Bolsonaro. Agir é a palavra do momento. Segundo o dicionário Oxford, 'tóxico' foi a palavra de 2018. Que seja 'ação' a de 2019. Ação contra o medo e a ofensa.

Agora além desse chamado a ação que foi o ano de 2018, reservo as coisas que mais apreciei nesse ano que já vira velho. Livros, canções, filmes, albuns, exposições, shows, séries de TV. Tudo ai embaixo como forma de experimentarmos o que a arte e a literatura nos ofereceu nesse ano. Voilá.

Livros

Fascismo, um alerta. Autora: Madeleine Albright. Publicado em 10 de Abril de 2018


Se esquecer do passado virou regra desses novos tempos em que redes sociais dominam a compreensão de mundo dos jovens e adultos. Esquecer de ditaduras, de guerras, do sangue derramado para que hoje tenhamos um ambiente em que jornais e revistas podem falar abertamente sobre tudo. O fascismo sempre esteve a espreita, mas somente nos dias de hoje quando muitas sociedades querem soluções fáceis para problemas dificeis, é que ele toma espaço e cria raiz. A ex-Secretária de Estado dos governos Bill Clinton escreve a obra literária de 2018, essencial para resgatarmos o que nós seres humanos fomos um dia e construir um pensamento mais inteligente sobre o mundo em que vivemos. Relembrar do fascismo traz ecos diretos a um presente que vemos diariamente nas manchetes e esse não é um mundo que devemos aceitar, mas um mundo que devemos continuar evitando. E de olhos bem abertos, vigiar-nos.




Canções

Rock'n Roll. Cantor: Nando Reis. Escrito por José Gomes Fernando dos Reis.

Em algum momento, virou o tempo
Um deslizamento derramou cimento
Entre a loucura e a razão
Já não há silêncio, tudo é barulhento
Muito movimento, pouco pensamento
Sobra opinião
Todos similares
Carregam nas mãos seus celulares
Rostos singulares
Se tornam vulgares em meio à multidão
Mas eu ainda canto meu rock 'n' roll
Eu ainda canto meu rock 'n' roll



São 08:44 minutos em que o grande músico Nando Reis destricha a sociedade brasileira e o atual panorama politico e social do país. As criticas as ações de partidos e grupos de pessoas que causam embaraço a história de um país como o Brasil. Uma obra-prima para ser ouvida em tom de relato, sincero e honesto de um dos maiores nomes da música brasileira, desde a época dos Titãs.

Filmes

Vida Selvagem (Wildlife, 2018). Direção de Paul Dano. Escrito por Paul Dano e Zoe Kazan.


Fissuras que mais aproximam que distancia, em Wildlife, de Paul Dano.
É impossível escolher um filme apenas. A lista tem que passar por Roma, de Alfonso Cuáron, Infiltrados no Klan, de Spike Lee, Aniquilação, de Alex Garland, Em Chamas, de Lee-Chang dong, A Favorita, de Yorgos Lanthimos, mas aqui fico com um em especial que vi em Outubro na Mostra de São Paulo e me tomou de assalto e sempre tenho sobressaltos quando me lembro do filme. É o Vida Selvagem, do incrivel e surpreendente excelente diretor Paul Dano. Sim, o ator que ficou famoso em Pequena Miss Sunshine entre outros filmes, se revela um roteirista também de mão cheia, onde ele divide a escrita com a também atriz Zoe Kazan. O resultado é um filme tão forte, na intensidade dos diálogos e na forma como os atores criam discussões e trejeitos. Carey Mulligan e Jake Gyllenhaal são dois fenômenos da natureza ao lado do garoto Ed Oxenbould. O filme ganha proporções muito maiores ao tomar todos os eventos do ponto de vista do garoto Joe. Os seus pais Jerry e Jeanette se apaixonarem no passado e hoje vivem juntos com o filho. O pai resolve em um belo dia, discontente de sua vida, ao ser demitido de um emprego de engraxate, entrar em um grupo de bombeiros voluntários. A sua mãe transtornada pelo desprezo do marido, busca consolo nos braços de um magnata (Bill Camp). Um filme que é relevante ao mostrar os sobressaltos do papel da mulher e do homem em sociedade e joga luz sobre dores que transformam a todos. Gosto de filmes 'coming of age' e esse filme é um raro exemplo de filme que vai além e se adequa a um cinema adulto e intenso, onde o final nunca fica muito claro para onde vai te levar.


Albuns

Death Cab For Cutie - Thank You For Today. Lançado em 17 de Agosto de 2018.



O que a banda formada em Berlingham, Washington lançou em 2018 é sem dúvida o seu mais aberto e pop albúm possível. Em meio a 10 faixas que tomam apenas 39 minutos do tempo do ouvinte, 'Thank You For Today" é um album de agradecimentos a vida. Aos dias que passam a sombra de más noticias, a amores que partem o nosso coração, ao sorriso de um semelhante, aos desafios do dia-a-dia. O vocalista Benjamin Gibbard escreve uma de suas mais inspiradas canções sobre nostalgias, a sensação do tempo que passa e desaparece. Em "When We Drive", a sensação de um carro em movimento enquanto vemos passar lugares e nossos dias de vida. O coração bate forte ao vermos pessoas passarem em meio a canções que falam em baladas que doem ao passar, como lembranças de um passado que todos nós temos em vida. Destaque para "Near/Far", "60&Punk" e a certeira e agitada "Gold Rush".


Exposições

Histórias Afro-Atlânticas. MASP. Exposta de 29 de Junho a 21 de Outubro.  

Fraissat-FOLHAPRESS

O que faz pessoas dizerem que são brasileiras? O corpo brasileiro é o corpo negro, é o corpo mulato, mas claramente se misturou muito até chegar ao que somos hoje. Somos sim esse corpo negro porque fomos formados dessa maneira, por sua vez os portugueses e colonizadores não se atentavam ao fato de que eram poucos em meio ao contingente negro, entretanto pela força muitos foram escravizados e mortos durante o periodo que habitavam a terra brasileira dos séculos e séculos passados. Olhar esses negros retratados, essa histórias exposta no MASP e no Instituro Tomie Ohtake foi olhar para nós mesmos, como em um espelho mágico. E olhar para as fissuras e rugas doem por nos fazer perceber o sofrimento de uma raça, que subjulgada foi ainda mais afrontada pela superioridade européia, pretensamente superior. O homem branco fez o mundo a sua maneira e subjulgou os negros e tentou apagar a sua arte e o seu sorriso. A grande exposição celebra uma das mais ricas raças por meio de 450 trabalhos, por meio de 214 artistas que vão do século 16 ao século 21. Em meio a um país em convulsão pela eleição de um presidente que vilipendia a história negra desse país, essa exposição é um ar fresco em meio as ameaças contra os direitos conquistados com muito sofrimento por todos nós, enquanto nação. 
Uma menção honrosa aqui a exposição de Irving Penn, no Instituto Moreira Salles da Avenida Paulista.

Séries de TV

Barry. Criada e Produzida por Bill Hader e Alec Berg. Canal: HBO.

Bill Hader é um matador de aluguel.

Em um ano com tantas noticias ruins, uma série de TV me fez rir como nunca e me cativar toda a atenção. A HBO, para mim, fez a melhor coisa da TV nesse ano e junto de Bill Hader (um dos meus humoristas favoritos quando fazia SNL) e Alec Berg ('o cara' que esteve por detrás de Seinfield e do excelente Sillicon Valley) fizeram uma história excelente sobre um matador de aluguel que resolve começar a praticar teatro. Em uma sequencia de oito episódios de aproximadamente 30 a 35 minutos cada, essa série para mim se tornou um dos melhores exemplos de comédia tão excelente quanto dramas (que geralmente levam prêmios de melhores obras). A vida de matador e de ator, ao mesmo tempo que cria situações hilariantes, leva a profundas questões filosóficas. O tom da série é em desvendar um mistério que envolve gangues de chechenos e bolivianos. Os chechenos são hilários e todo o desfecho cria a expectativa de bons episódios para a segunda temporada.


E é isso. O que fica é a certeza de que a arte vai sempre ser instrumento de resistência e poder em meio a discursos de intolerância, medo e ódio. Ninguém solta a mão de ninguém aqui.

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