sábado, 19 de outubro de 2013

Sob o sol de Los Angeles, o Arctic Monkeys volta com todo o charme e atitude.

* O disco mais espetacular do ano?

Sob a forma de riffs que parecem ensolarados pelo som hip hop, baladas passadas no calor de Los Angeles.

Os garotos e o visual anos 50 da banda.

"Nós nunca seremos uma banda indie chata. Nós sempre queremos explorar.", diz o vocalista do Arctic Monkeys, Alex Turner em entrevista a britânica Q Magazine. "Depois do nosso primeiro LP eu não acho que nós sabíamos para onde estávamos indo", completa. O que a banda traz aqui nesse quinto disco é tudo aquilo que parece destoar de tudo que eles poderiam pensar em terem feito. O disco de estréia dos Monkeys, o já clássico album "Whatever People Say I Am, That's What I'm Not", com todo aquele rock de garagem, punk e de uma certa forma um som fresco e rápido, potente e pop. A banda sai de Sheffield para um longo caminho para o sucesso. Tomaram um pouco mais talvez da mesma fonte do primeiro disco, na leveza adolescente, e se puseram a lançar um rock pesado até no segundo disco ("Favourite Worst Nightmare") em faixas como "Brianstorm", e "Teddy Picker". Experimentaram um tom meio psicodélico e mais setentista aos comandos do amigo da turma Josh Homme no terceiro disco ("Hambug") até chegar na mistura meio country como enquadra Alex Turner, bastante carregada dos elementos de Hambug caminhando para um rock mais visceral em "Suck It And See", o quarto album. Agora em 2013 eles caminham para uma pegada mais hip hop de Dr. Dre e Eminem, com elementos que vão do rock de Lou Reed em "Transformer", ao som de Black Sabbath e T-Rex. Conseguiu formar algo em mente? A mistura soa no quinto album auto intitulado simplesmente "AM" um disco que transcende aos limites do rock feito hoje em dia. Um rock que bebe em referencias sem parecer extremamente característico a algo, pelo contrario age em favor de um poderoso som dosado de maneira muito boa.

A energia da banda para trazer um album que se diferenciasse dos anteriores foi capaz de transformar o som do rock que eles faziam se aproximar de elementos do rap sem se tornar propriamente um album do genero. "Não há aqui sonoridade rap nisso (no album) para começar...", diz Alex para a NME. "Não vou me estressar se isso não é um disco de rock e sim de rap", continua. "Essa pior coisa..." O intuito é criar algo que seja mais proximo do que a banda nunca chegou nem perto em fazer. E aqui há backing vocals, riffs que deslizam numa ambientação tremendamente setentista. Sobre o que define esse novo trabalho, o vocalista da banda assume: "Certo", responde. "Soa como batidas do Dr. Dre, mas nós demos uma cortada de influencias de Ike Turner e nos lançamos galopando por um deserto através de uma Stratocaster"

Hoje em dia os quatro integrantes da banda (Turner, Matt Helders, Jamie Cook e Nick O'Malley) vivem em LA, proximo do glamour das festas e eventos da cidade onde vivem celebridades, modelos e gente ligada ao cinema. Nesse ambiente, eles confessam que as festas tem sido frequente em suas rotinas e que ao fim tudo parece meio surreal e superficial. O que em entrevista a New Musical Express admitem que os inspirou nesse novo disco. O reporter então o pergunta se tudo poderia ter sido passado numa festa na Hollywood Hills, as canções e letras do novo disco? "Não tenho muita certeza, realmente. Se fosse um filme eu gostaria que parecesse como sonhos numa sequencia de Fellini, onde você não tem exata certeza de nada.", diz Alex Turner. Essa nova fase da banda foi gravada nos estudios Sage & Sound, achado pela propria banda para servir de lugar para as gravações.

A banda antes de lançar o disco oficialmente já se deu de cara com diversos festivais em que assumiram o papel de headliners. Festivais, assim, como o de Glastonbury, onde fecharam a noite de sexta. Detalhe dividiram o topo das atrações com os Rolling Stones, ou seja, nada mais precisa ser provado de que os Arctic Monkeys, hoje, são uma das maiores bandas do mundo. Foram ainda para festivais em Portugal, Espanha e o de Austin City Limits.

O veredito desse novo disco da banda vai além de simples explicações. Se dissesse que é um disco excelente estaria sendo honesto. Não que haja o que discordar, mas não é uma obra-prima como deu a NME em sua resenha atribuindo uma nota de 10 ao disco. Entretanto, é um disco que figura entre os melhores do ano de 2013 sem duvida e possivelmente sem duvida o melhor da banda até aqui. A genialidade dos versos de Turner até mesmo em B Sides de singles lançados pela banda faz crer que não tem como ignorar o potencial que eles trazem na música e no rock hoje. Versos que se aprofundam substancialmente nos dramas masculinos e femininos, humanos, sim, mas por ser um disco sexy e provocativo faz com que tudo se torne mais intenso e viciante.

Admito aqui que não resisto em ouvir uma só musica desse novo album, costumo deixar rolando todas as faixas, da primeira faixa "Do I Wanna Know?", que traz aquelas batidas aqui e acolá de Dr.Dre, com riffs setentistas e poderosos numa balada que é devagar sem perder a sua força, passando pelas estonteantes "R U Mine?" e  "Arabella", a primeira é um tremendo furacão de riffs que hipnotizam em versos brilhantes. Esse single já havia sido lançado um ano antes. "They' ve come to find ya fall in some velvet morning. Years too late. She's a silver lining, lone ranger riding. Through an open space. In my mind, when she's not right there beside me.", canta Turner. A segunda começa em versos como se declarasse essa tal Arabella. "Arabella's got some interstellar gatorskin boots. And a Helter Skelter 'round her little finger and I ride it endlessly. She's got a Barbarella silver swimsuit. And when she needs to shelter from reality. She takes a dip in my daydreams.", até o refrão que cresce até estourar e soar uma boa levada de Black Sabbath: "Just might've tapped into your mind and soul. You can't be sure." Outra faixa sensacional, "One For The Road" começa bem R&B, tem Turner dividindo os microfones com Matt Helders fazendo falsetto "whoo, whoo" no fundo.

Turner entre um cigarro e outro.

A proxima faixa "I Want It All", tem levadas bem sexy e um tom glam-rock. Dando lugar para uma das mais belas faixas do disco, "No. 1 Party Anthem", que como lembra a NME parece com "Nobody Loves You (When You're Down And Out)", do John Lennon. Com pegadas que trazem um pouco de "Cornerstone", do album "Humbug" (09), a faixa é uma balada de alguem solitário num final de festa. Tem a voz de Turner em falsetto, linda. "Mad Sounds", a faixa seguinte tem estrutura que te lembra de pronto a coisas feitas por Lou Reed, principalmente no seu album "Transformer", um som leve e calmo com toda uma carga emocional ali: "Mad sounds in your ears make you feel alright. They'll bring you back to life. Mad sounds in your ears. They make you get up and dance. Make you get up." "Fireside", é bem agitada e tem guitarras bem presentes. "Why'd You Only Call Me When You're High?" é uma das faixas que dá pra perceber o hip hop logo de cara. Assim como todas as faixas são bem sexy. "Snap Out Of It" tem um Alex Turner te alertando que não vale a pena tentar nada se os flertes não levam a nada. "Knee Socks" tem dedo de Josh Homme que participa da faixa, em retribuição a que Turner fez no discaço do QOTSA, "...Like a Clockwork". E o album fecha com a linda "I Wanna Be Yours".



Sem duvida, os garotos de Sheffield que começaram dizendo que você leva jeito na pista de dança, agora já estão mais adultos e imersos no glamour de uma LA que para eles ainda preserva aquela atmosfera do cinema dos anos 50, 60, no visual e no corte de cabelo deles onde pode se notar. O que eles mais fascinam hoje na música é não serem repetitivos e sempre trazerem boas ideias. Turner constroi lindas composições e os sons que temos aqui é fruto de parceria sim, mas de uma visão interessante. "AM" é bem mais que um par de boas composições. Tem charme e é marcante. Não acho que é uma obra prima ainda. Pelo potencial que mostram aqui, não duvide, eles nem mostraram ainda sua obra prima máxima.







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